Galáxia de Ideias 02/09/2017
A Menina dos Olhos Molhados faz parte de uma dulogia, sendo continuação de Azul da Cor do Mar, não como uma história posterior, mas sim narrada da perspectiva de Bernardo e ao contrário da anterior, que é contada a partir da visão de Rafaela. Neste segundo livro a narração é alternada entre o passado e o presente, focando principalmente no atual, mas sem deixar de mostrar fragmentos do passado de Bernardo, trechos que contribuem de forma bastante positiva para a compreensão da história e nos permitem conhecer e entender melhor a personalidade de nosso protagonista.
Terminei a leitura de Azul da Cor do Mar e confesso que fiquei meio dividida entre ler e não ler A Menina dos Olhos Molhados. Não que eu não tenha gostado do primeiro livro, pelo contrário, me envolveu bastante. Entretanto, não é sempre que estamos afim de ler uma história onde já sabemos o que vai acontecer e conhecemos os fatos, ainda que ela seja contada de um ponto de vista diferente, não é? Eu não estava. Fiquei receosa de que a leitura se tornasse enjoativa e repetitiva. Porém, Marina, você sabe mesmo como surpreender, hein? Sim, eu me surpreendi. A temática é a mesma. Os cenários e personagens são todos iguaizinhos. Mas a autora soube incrementar o enredo, justamente com esta ideia de alternar entre o presente e passado do personagem narrador, coisa que não ocorre no livro antecessor, para que possamos, além de conhecer uma outra visão a respeito dos acontecimentos, saber fatos importantes da vida de Bernardo, que não teriam como ser mostrados pela visão de outra pessoa. Eu não esperava descobertas novas, mas foi o que encontrei.
A Menina dos Olhos Molhados é sim um livro que pode ser considerado clichê e água com açúcar. É romancezinho para ler em um fim de tarde curtindo o pôr do sol ou em madrugadas tristes com um pote de sorvete ou uma caixa de chocolates ao lado. Sim, é uma história bem mulherzinha mesmo. Mas eita leitura deliciosa, gente! Leve, divertida, ideal para relaxar e passar o tempo.
Quanto as personagens, tanto Bernardo quanto Rafaela me cativaram muito. Ele é o típico mocinho que mais se parece com o vilão e eu me apaixonei, claro. Em alguns momentos tive vontade de pegá-lo pela mão e dizer "ei, não seja tão babaca", mas em outros, na maioria deles, tive vontade de cuidar desse moço fofo ou não tão fofo assim, tipo como todas as mulheres da trama. Rafaela, por sua vez, também foi alguém a quem tive facilidade de me apegar. É uma garota comum e, talvez, por isso tenha sido tão especial. Admito que, a princípio, tive a impressão de que seria uma mocinha fresca e tudo mais. Mas não. Ela é delicada, gosta de fazer as unhas e estar sempre na moda. É baixinha e adora um salto alto, tem um ímã para desastres (me identifiquei) especialmente em relação a tombos e tropeços. Teimosa, invocada quando tem que ser e humilde. Além do ódio inicial e da paixão que passam a nutrir pouco a pouco um pelo outro, a outra grande semelhança entre Bernardo e Rafaela é que ambos possuem um coração gigante e isso fica visível. Inclusive, casal tapas e beijos, vocês ganharam mesmo um pedacinho do meu.
Preciso dizer que, como estudante de Jornalismo, A Menina dos Olhos Molhados também conquistou um lugarzinho especial dentro deste meu mundo literário, pela forma com que aborda a profissão, a área de jornalismo investigativo e o ambiente da redação que, como aluna, eu ouço tanto falar no dia a dia. A cada início de capítulo nos é dada uma frase curta a respeito de jornalismo, tratando de questões tanto teóricas quanto práticas. E, ao longo da leitura, eu percebi que já havia me deparado com a maioria daquelas frases ou com outras muito parecidas, durante as minhas aulas, o que particularmente para mim foi bem legal.
O único "ponto negativo" que pode incomodar algumas pessoas, mas não me incomodou em nenhum momento, é o fato de ser, como eu disse, um livro clichê. Previsível e não no sentido de falta de surpresas, porque ele também não peca neste aspecto, mas no sentido de que a gente já lê sabendo que encontrará um final feliz. É como bolo de mãe ou os almoços de domingo na casa da avó: a gente já conhece o sabor, mas isso não faz com que deixe de ser bom. Traz a sensação de um dia em casa, onde tudo é calmo, confortável e do jeitinho que a gente deixou. Mas quem não gosta de estar em casa um dia ou outro, não é?
*Resenha postada originalmente no blog Rillismo
site: http://www.rillismo.com/2017/08/resenha-menina-dos-olhos-molhados-por.html