spoiler visualizarYohlay 15/04/2022
Primeiro contato com Shakespeare
Otelo é uma das mais famosas obras de Shakespeare, cuja premissa trágica é similar com todos os outros textos dramáticos dos quais foi autor. Trabalha muito bem os personagens, com o estilo de construção um tanto quanto caricato, o que não é incomum para obras da época. Além disso, aborda pautas muito interessantes e atuais, fato que é bem surpreendente, ao levarmos em questão o ano da primeira publicação da obra, que é 1622.
É interessante observar como a trama parte muito de como os personagens são construídos. Desdêmona é a mulher bela; Otelo o herói controverso; Iago é o vilão astuto, e essas características são pontos de partida para o desenvolvimento da história, o que torna ela muito bem arquitetada e sobretudo bem amarrada no final do livro.
Vejo como um ponto muito curioso as passagens que o personagem Iago tende a providenciar uma comunicação com o leitor (quebrando a quarta parede), como se ele, em função de sustentar seu objetivo de conquistar Desdêmona, tem a obrigação de nos convencer de que a essência de Otelo não corresponde à sua aparência. E essa motivação, ao meu ver, é o fator que mais movimenta a história. Do traçar de seu plano, até sua concretização, ainda que não a ideal.
Podemos também observar que Otelo constrói reflexões e diálogos que são muito presentes na realidade em que vivemos hoje. Shakespeare utiliza muito bem a voz de seus personagens para criar críticas, que muitas vezes são paralelas às concepções dos personagens, o que é mais um fator que fortalece bem a trama, ao mesmo tempo que apresenta seu conteúdo ideológico.
O livro consegue ser atrativo e os personagens mostram-se muito nítidos, mesmo que às vezes eu confesso ter sentido falta da boa e velha descrição da galera de prosa. Acredito também que o quesito tensão é muito bem preenchido, através de Otelo, que se vê sucumbindo à cova do ódio cavada por Iago. Buscarei mais obras do autor.