Fernanda631 21/01/2023
Otelo - William Shakespeare
Otelo foi escrito por William Shakespeare, sendo escrita por volta do ano 1603. Data da primeira publicação: 1 de novembro de 1604.
A grande maioria das peças tem uma riqueza não apenas literária, mas filosófica, psicanalítica e política. Shakespeare foi, sem dúvida alguma, ao lado de Miguel de Cervantes, o maior poeta da literatura mundial.
A história gira em torno de quatro personagens: Otelo (um general mouro que serve o reino de Veneza), sua bela esposa Desdêmona, seu tenente e grande amigo Cássio, e seu sub-oficial Iago. Iago não aceita que Otelo nomeou Cássio como tenente e tenta, de todas as formas possíveis, destruir a vida de todos, plantando a “sementinha do ciúme” na mente do general para que ele desconfie de uma relação amorosa entre Desdêmona e Cássio.
A trama em si é muito envolvente, desenvolvida por ambição, amor, ódio e vingança, na ilha de Chipre, no momento que era dominada pelo Império Veneziano, durante os séculos XV e XVI. Otelo é um nobre mouro a serviço do Estado de Veneza, negro, era um dos principais comandantes da guerra contra a Turquia. Ele era muito respeitado na sociedade, apesar de ser negro, fora dos padrões da época e se apaixona pela jovem Desdêmona.
Ao se casar com Desdêmona na calada da noite, Otelo enfrenta um julgamento perante o Duque e os senadores, entre os quais Brabâncio, pai de Desdêmona, o acusa de bruxaria contra a sua filha.
Brabâncio não compreende a transformação da filha obediente e honrada em uma jovem que toma decisões por conta própria e escolhe fugir para se unir a Otelo.
Este relacionamento era inaceitável, pois Otelo é forasteiro, negro e somente um instrumento que Veneza usa para garantir sua beleza e cultura, através das guerras e de sangue.
Otelo é venerado como general, mas ainda sofre com o julgamento que recebe de todos ao seu redor. Cássio é um escudeiro fiel, porém de cabeça fraca: trata Desdêmona com educação e cavalheirismo, mas quando se trata de outras mulheres, ele é grosseiro e rude, como quase todos os homens da época. Ele cai direitinho nas mentiras de Iago e seu desfecho não é dos melhores.
O fato é que esse personagem, Iago, era a personificação do demônio por tudo que ele apronta contra Otelo, manipulando várias pessoas e situações em benefício próprio. Ele sabia que o ponto fraco na personalidade do mouro era justamente o ciúme, investe com todas as armas que ele possuí.
É interessante o modo como Shakespeare aborda o ciúme. Quem é ciumento e possessivo geralmente acredita em qualquer mentira bem elaborada, tanto que Iago nem precisa de grande esforço para ludibriar o general. Com suas falas venenosas, aos poucos, Iago finge que “sabe de algo, mas não pode contar” e deixa a entender (após muita insistência de Otelo) que Desdêmona e Cássio estão saindo às escondidas. O vilão utiliza as fraquezas de Otelo (como sua baixa autoestima) e cria cenas visuais na cabeça do mouro. Otelo não suporta imaginar sua esposa fazendo sexo com Cássio, ferindo seu orgulho masculino. Nada é pior para os homens de cargo alto no exército que serem traídos. E é justamente essa a arma de Iago.
O que me chamou a atenção foi o cinismo de Iago. Iago era o homem que Otelo mais confiava e jamais poderia imaginar ser traído dessa forma. Além disso, a maneira com que Otelo se vinga ao descobrir a possível traição de sua amada é brutal, revelando seu caráter extremamente violento.
Desdêmona também é uma personagem de certa forma intrigante. Apaixonada por Otelo ela até enfrenta o próprio pai para se casar. Ela aparenta ser ingênua, em diversos momentos, mas mesmo sofrendo as consequências por uma traição que não cometeu, não desiste de Otelo, mesmo com a violência sofrida.
Outro personagem que merece atenção é Cássio, tenente e alvo escolhido por Iago como pivô da separação de Otelo e Desdêmona. Ele se preocupa muito com a sua reputação, ou seja, o que mais importa para ele é a imagem que a sociedade pode ter.
O final é trágico, mas é uma história que consegue apresentar personagens tão diferentes e complexos em poucas páginas, sendo impulsionados pelos sentimentos que os domina, sejam eles bons ou ruins.
O livro ilustra tão bem os nossos dias atuais, onde temos sempre aquela pulga sussurrando nos nossos ouvidos, de uma forma bem convincente, tudo aquilo que devemos acreditar, influenciar nossos atos e decisões, fantasiados de gente de confiança. Assim foi Iago para Otelo. Aos nossos olhos contemporâneos podemos notar também preconceito cultural e racial para com Otelo, pois este é um Mouro e é caracterizado como negro.
A tragédia de Shakespeare trata de temas variados que são discutidos até hoje, como racismo, amor, ciúme, traição e até xenofobia. Quando você começa a ler esse tipo de clássico, é inevitável enxergar as referências em boa parte das séries e filmes atuais. Iago é aquele vilão persuasivo e inteligente que engana a todos ao se passar por um homem íntegro, obediente e conselheiro. Desdêmona é a esposa fiel, casta e passiva que “abandona” seu pai Brabâncio para casar com Otelo, o mouro de Veneza. Ela precisa lidar com ofensas e críticas de todos os lados por ter se casado com um estrangeiro, que ainda por cima é negro e com “traços animalescos”.
Esse livro provou como o ser humano pode ser fortemente influenciado se possui a cabeça fraca, sem opinião própria e conhecimento. Jovens/namorados/maridos fazem mal às suas respectivas por simples ciúmes, por se acharem donos de seus amores, capazes até de cometer tragédias. Esses detalhes lhes soam familiares não? Pois Lá em 1600 Shakespeare consegue descrever claramente o nosso tempo, tempos bem difíceis no caso, que na minha opinião, são atos impregnados na cabeça e cultura de muitas pessoas.
Otelo serve para abrir nossos olhos, nos ensinar a pensarmos sozinhos, a não deixar sentimentos ruins nos dominar e serem capazes de cometer atrocidades.
Otelo é aquela obra que você precisa ler com calma, mas que vai abrir portas para a compreensão de arquétipos. É importante fazer uma análise aprofundada das personagens e relacioná-las com o contexto histórico da época.