Contos negreiros

Contos negreiros Marcelino Freire




Resenhas - Contos Negreiros


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Jefferson Vianna 10/12/2017

Verdades que transbordam aos olhos...
Seria insuficiente dizer que eu gostei ou até mesmo que amei a brutalidade na narrativa nua e crua de Marcelino Freire. Por incrível que pareça eu estava em busca de algo do tipo e fiquei feliz por ter encontrado. O livro é dividido em 16 contos curtos de uma intensidade sem igual, impossível não fazer longas pausas, respirar fundo e até mesmo mergulhar em devaneios, já que o autor nos convida a todo instante a reflexão de nós mesmos. São contos que expressam a verdade, ilustram a realidade dos negros, do preconceito, as dificuldades e as necessidades. Um livro que transmite valores e que nos faz sentir a vida, enxergar o que os olhos insistem em não ver... Faz-nos abrir os olhos para as impunidades, que muitos insistem em dizer que não há! O livro “Contos negreiros”, sem dúvidas foi um dos melhores livros que pude ler em 2017. E sobre o livro algumas frases ficaram gravadas em minha memória: "Diz pra ela pensar em outra coisa, sonhar com os pés no chão." - "Meu homem diz que eu serei seu escravo a vida inteira." e "Para que apontar essa arma para a minha cabeça amigo? Não aponta."
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magdiel 20/05/2018

CÂNTICO À ESCRAVATURA HODIERNA
Quando se lê a palavra “negreiro”, nossa mente remete aos anos de escravidão negra africana entre os séculos XVI e XIX. O mesmo ocorre ao ouvirmos o termo negreiro ser pronunciado, pois estava sempre acompanhada pelas palavras “navio” e “tráfico”. Então, por carregar esse peso, a impressão que o título Contos Negreiros passa inicialmente é a de se tratar de contos sobre a escravidão negra no Brasil. E essa impressão não poderia estar mais correta.
Não se trata de histórias passadas durante o período colonial, mas de seu remanescente e nosso contemporâneo agora. Mesmo a população considerada negra estando em maior número no país, desde a abolição assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, os negros são considerados uma minoria (diante do poder e imposição dos brancos) e oprimidos de forma cruel até os dias de hoje junto com outros grupos também considerados minorias.

"Na sociologia, o termo “minoria” normalmente é um conceito puramente quantitativo, referindo-se ao subgrupo de pessoas que representa menos da metade da população total, sendo certo que, dentro da sociedade, ocupa uma posição privilegiada, neutra ou marginal. Todavia, no aspecto antropológico, a ênfase é dada ao conteúdo qualitativo, referindo-se aos subgrupos marginalizados, ou seja, minimizados socialmente no contexto nacional, podendo, inclusive, constituir uma maioria em termos quantitativos. Dessa forma, para ser objeto de tutela internacional, a minoria deve, necessariamente, ser caracterizada pela posição de não dominância que ocupa no âmbito do Estado em que vive."(MORENO, 2009, pg. 152)

Ainda que, como minoria, o negro lute para conquistar seu espaço, conseguido algumas vitórias durante o caminho, o status de povo oprimido ainda permanece.

"Em nosso entendimento, as regiões periféricas, apesar da violência sistêmica, têm se esmerado na busca de alternativas de superação da realidade estigmatizada do indivíduo que vive humilhado, sem perspectivas e abandonado no gueto."(SOUSA, 2012)

Por esta razão, Marcelino Freire traz os contos negreiros como um retrato da vivência negra contemporânea no Brasil, e o peso de quem ainda sente um período escravidão que nunca acaba.
Marcelino abre o livro evocando a famosa música Aquarela do Brasil, samba composto originalmente por Ary Barroso. “Brasil, do meu amor. Terra de nosso sinhô.” é o trecho escolhido pelo autor para iniciar sua obra.
No recorte de uma das canções mais conhecidas da MPB, o insight do Marcelino, dentro do contexto do livro, principalmente pelo "sinhô", e essa variação que não estará presente na letra da música ao se procurar na internet, representa não apenas o que se fala, mas o que é o Brasil, um país construído no suor e trabalho de escravos negros, indígenas e imigrantes.
Publicado em 2005, pela Editora Record, a edição de Contos Negreiros traz uma apresentação escrita por Xico Sá, emulando o cantar de Marcelino. Fazendo paralelos a Gilberto Freyre, e analogia ao ditado popular "Rapadura é doce mas não é mole não".
Os contos deste livro não são chamados de contos, e sim como Cantos. Remetendo a epopeias, nesse caso cantando a saga de um povo escravo que nunca foi abolido.

O primeiro canto, Trabalhadores do Brasil, que fala sobre o esforço do negro que se submete a todo tipo de trabalho para sobreviver, faz algo semelhante ao que fez Neil Gaiman no livro Deuses Americanos, onde ele traz deuses de mitologias arcaicas de diferentes culturas personificadas como pessoas comuns vivendo nos Estados Unidos. Nesse canto, cada personagem carrega o nome de um Orixá africano do Candomblé, religião afro brasileira que resgata a cultura Iorubá. Esses negros com nomes de Orixás, são árduos trabalhadores que lutam para sobreviver, representando todo um legado místico neles escondido por trás da marginalização.

Marginalização essa, tão carregada e enraizada que se segue por todo o restante do livro. Em Solar dos Príncipes, o autor ironiza a mídia jornalística presente nas favelas, invertendo os papéis, mostrando o preconceito que a elite tem com os negros, quando tratam sua realidade nos morros como algo exótico. Em Esquece, a narração do ponto de vista do negro marginal, o dos noticiários, a visão do negro como bandido.
Algo muito forte na vivência do povo, é o elitismo, conceito que consiste em favorecer grupos específicos diante de outros grupos com menor privilégio.

"O elitismo provém, não da prosperidade ou de funções sociais específicas, mas de um vasto e complexo educacional e cultural, corpo de símbolos, inclusive de condutas, estilos de vestimenta, sotaque, atividades recreativas, rituais, cerimônias e de um punhado de outras características. Habilidades e aptidões que podem ser ensinadas são conscientes, enquanto o grande vulto de símbolos que forma o verdadeiro elitismo verdadeiro é considerado utópico como a própria República de Platão e Aristóteles, não é deste mundo, portanto é inconsciente."
(LEWELLEN, 1983, pg. 112)

Nesse contexto, existe o elitismo dos brancos acima dos negros.

"(...) devemos ter em mente a profunda e ambivalente fascinação do pós-modernismo pelas diferenças sexuais, raciais, culturais e, sobretudo, étnicas. Em total oposição à cegueira e hostilidade que a alta cultura européia demonstrava, de modo geral, pela diferença étnica —, não há nada que o pós-modernismo global mais adore do que um certo tipo de diferença: um toque de etnicidade, um "sabor" do exótico e, como dizemos em inglês, a bit of the other (expressão que no Reino Unido possui não só uma conotação étnica, como também sexual)."
(HALL, 2006, pg. 337)

Reflexo disso, está no canto IV, Alemães Vão À Guerra, que mostra a voz de um estrangeiro e seu fascínio por corpos negros, deixando a entender a prática de tráfico humano para fins sexuais. E esse viés vai além da elite branca e transbordado em diversos meios sociais, como mostrado no canto Vanicléia, onde além da exploração da mulher também representa a violência doméstica.

Em Linha do Tiro, referência à linha de ônibus homônima que circula em Recife, além do estereótipo de negro assaltante já usado anteriormente, é presente uma pré-ideia de negro pedinte e vendedor de balas.
Voltando ao tráfico humano, Nação Zumbi brinca com o símbolo negro Zumbi, referente a nação oriunda de Zumbi dos Palmares, com o conceito de “zumbi” monstro morto-vivo conhecido por histórias de terror como o fantasma que vaga pela noite morta. Abordando o tráfico de orgãos e a necessidade por sobrevivência para se alimentar, mesmo que pra isso se tenha que vender um rim.

Em Coração, Marcelino evidencia os homossexuais, tema presente em outras obras do autor. Fala como gays se relacionam, ama e não tem coração. Como todo mundo. E ainda sim, são discriminados e violentados.

O canto Caderno de Turismo, fala do pessimismo e do sonho do negro, de querer viajar, conhecer o mundo, e a morte desse sonho pelo medo, necessidade de ficar, falta de condições de ir, e a impossibilidade de se conseguir algo que se almeja e se está muito distante. Esse pessimismo é influenciado pela falta de representatividade, não se vê negro viajando, conhecendo o mundo. Da mesma forma que não se vê negro na televisão, o que resulta em brancos sendo ídolos de negros, como no canto Nossa Rainha, onde a apresentadora Xuxa é a grande influência de uma criança pobre, que a Xuxa nunca representou, mas mesmo assim é a referência que a criança tem, e a única que vê na televisão.

Do pessimismo, o canto Totonha leva ao conformismo em ser pobre, ignorante e esquecido, pois do seu ponto de vista, não adiantaria. “Eu é que não vou baixar minha cabeça para escrever. Ah, não vou.” (FREIRE, 2005, pg. 81)

Em Polícia e Ladrão, analogia a brincadeira infantil que simula ladrões e policiais, se mostra mais uma vez o negro como bandido, mas relutante, saudosista, arrependido. Com medo. Ainda na infância negra, o canto seguinte, Meus Amigos Coloridos, conta a vivência de um carioca até sua juventude, e a descoberta de sua sexualidade. Mas no canto seguinte o assunto volta à infância e remete ao canto Nossa Rainha, onde um menino negro deseja uma “loira gostosa”, por ser o que é representado como mulher bonita na mídia. Mas teme pela sobrevivência e manutenção de um relacionamento com essa loira sendo negro e pobre.

Retomando à questão sexual já abordada também em outros cantos, o livro traz Meu Negro de Estimação, retratando um relacionamento entre um negro submisso, tanto sexualmente quanto financeiramente. Prefere depender de alguém que o explora sexualmente, do que a miséria e a violência da favela. Prefere a servidão. O canto também trata da fetichização negra, presente em Alemães vão à Guerra, onde a inversão de papéis é só fantasia sexual. “Meu homem diz que eu serei seu escravo a vida inteira”. (FREIRE, 2005, pg. 102)

O último canto, Yamami, aborda a marginalização do índio. Pela visão de um estrangeiro que despreza indígenas, a narrativa trata de pedofilia, prostituição, e como o povo indígena sofre, assim como os negros, o legado da escravidão.

Nascido em Sertânia, vivido em Recife, o morador de São Paulo, Marcelino Freire tem um estilo próprio de narração, mesmo que semelhante a outros escritores que declamam, o cantar de Marcelino é insalubre, intimidador, solto e afoito. Não há melhor adaptação de seus escritos do que narrado por ele próprio. Sua linguagem é oral, escrita, cantada, sendo convidativa e desafiadora.

Seus temas, embora se repitam ao longo do livro, carregam subjetividades e nuances, crueldades do mundo real e também vivência.


Marcelino Freire é arretado!

site: https://codigo137.blogspot.com.br/2018/05/literatura-contos-negreiros-de_20.html
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Leituras do Sam 22/05/2018

Em uma sequência de "socos" rápidos e certeiros, Marcelino Freire toca em muitos pontos da vida dos negros e negras na terra do "tem racismo, mas ninguém é racista".
O conto que, pra mim, serve como síntese dessa coletânea é o "Solar dos príncipes", nele um grupo de quatro negros/as resolvem entrar sem aviso prévio em um condomínio de luxo para filmar o dia-a-dia dos moradores/príncipes, tal qual, não raro, os turistas, brancos, ricos, sobem o morro para documentar a vida na favela; nao preciso dizer que dá errado e o que vemos é o total descompasso de tratamento que esses recebem, diferente daqueles. Marcelino parece perguntar "por que só os pobres e negros tem a sua vida devassado, invadida, estudada, de bom grado, enquanto os ricos, brancos se fecham dentro de suas mansões/prisões?".
Com uma liguagem cadenciada, ora exprimindo gemidos, ora sorrisos, assim como no samba o autor nos inquieta ao nos fazer refletir sobre a solidão da mulher/homem negro, esteriótipos, prostituição infantil, homoafetividade negra e muitos outros assuntos que se formos sinceros, iremos admitir a naturalidade com que aceitamos e perpetuamos esses atos racistas e preconceituosos.

@leiturasdosam
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Edkarl 26/11/2022

esse livro lembro que foi uma experiencia incrivel e dolorosa de ler
pretendo reler ainda, pois nao lembro muito, mas já que gostei seria bom revisitar. tô tentando resenhar todos os meus livros lidos pois está dando agonia ver o numero de lidos diferente do de resenhado
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Henrique Fendrich 30/08/2022

Li há muito tempo e foi o meu primeiro contato com gênero dos contos curtos. Lembro de ter achado interessante, embora não necessariamente empolgante.
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@eu_rafaprado 31/05/2018

9 de 2018
Contos Negreiros
Que livro... FORTE !!! Muito atual !!! Cada conto um ponto !!! @marcelino_freire_escritor leu o primeiro conto para o CD do Emicida:
https://www.youtube.com/watch?v=Hw9_sIB1bQo

Vale a pena devorar essa obra assim como eu fiz !!!!
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cmscotti 02/10/2019

depois de uma deliciosa roda de conversa na fli-bh, adquiri um exemplar do próprio autor e devorei de uma vez só, apesar de cada conto ser um chacoalhão na minha branquitude privilegiada! uma vez que se ouve marcelino declamando seus contos, é impossível lê-los sem ouvir sua voz, até o sotaque tá lá, mas principalmente a emoção, o ritmo, aquela pulsação que te fisga e te deixa com a respiração suspensa lendo/ouvindo aqueles cantos desabafos até terminar estatelada no chão – ou sem chão. é pra ser assim mesmo, um incômodo inebriante. dica: cata aí no youtube entrevistas, depoimentos, marcelino lendo até bula de remédio (sim, tem!) e consuma sem moderação.
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Ana Laura 26/04/2020

Mais um livro indicado para o vestibular, gostei de como o autor é direto e seco mostrando as coisas como elas realmente são.
A leitura flui rápido e é forte, além de conter contos muito atuais sobre a realidade de muitos.
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Anny 10/06/2020

Li para o processo seletivo da UFU. Interessante por abordar diversos temas difíceis de lidar.
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fev 13/01/2021

3,5

Contos Negreiros é um livro pequeno e rápido de se ler.

No começo eu acreditava, julgando pela capa, que seriam contos relacionados ao período escravocrata. Na realidade, Contos negreiros é sobre as consequências da escravidão e da colonização nos dias atuais. Como o negro é visto pela sociedade e o que ele se torna por ter sido largado e esquecido na margem da sociedade. Exemplos: ser negro é sinônimo de ladrão, de ignorante, a solidão e a submissão de ser negro ou ser trocado, a valorização e endeusamento das pessoas brancas, o abuso das pessoas brancas.

É um ótimo livro para as pessoas perceberem os seus privilégios quando a cor da pele é o fator principal. Os contos são bem legais. Vale a pena conferir.
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Rafaela.Maria 29/05/2021

Se pudesse dar mais estrelas, daria.
A escrita de Marcelino Freire não é para os que procuram na literatura um alento confortável, pomposo e organizado. Trata-se de pensamentos conflituosos de pessoas que vivem em um país maldito. O que Marcelino compôs é fruto de uma coragem e autoconhecimento literário. O autor brinca com a língua e a transforma em uma perfeita ilustração de um fluxo de consciência bem feito e sem firulas para tentar ser ?cult?.
Vejo nos contos do escritor nordestino muito mais de ótimas reflexões e um grito de denúncia. Há em suas palavras algo novo, diferente, único, bem formulado e espontâneo; algo, eu diria, que Marcelino.
Não cabe a mim falar sobre o que os contos se tratam, pois há tudo em personagem que não possuem nada. Só a dor de estar vivo em uma escaramuça do existir.
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Rafael 29/05/2021minha estante
Você e Marcelino ?


rskhalil 30/05/2021minha estante
Tenho muita vontade de ler Marcelino! Tá na lista




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