Conchego das Letras 26/02/2018
Resenha Completa
Primeiro livro da série Paixões Gregas, da escritora brasileira Mônica Cristina e que foi um enorme sucesso na plataforma de auto publicação Wattpad, está sendo relançado na Amazon.
O livro é bem romance de banca, usando o clichê da vingança como ponto de partida. Como já falei algumas vezes clichê não é ruim, afinal a vida é um enorme clichê. Então esqueçam o preconceito, tanto com relação a clichês quanto em relação a romances de banca. Ambos são boas referências.
Mônica soube trabalhar a história e os personagens, não há soluções fáceis ou sem explicações. Também não há enrolação na trama, tudo tem um porquê na narrativa, indo em um ritmo adequado para que o leitor possa acompanhar as mudanças dos protagonistas. Começando por Leon e seus irmãos. Nos tempos atuais são homens bem-sucedidos, empresários respeitados, ricos e bonitos, mas que lutaram (e deram sorte, como a autora fala) para conseguir tudo o que tem. Eles não são maus, não que sejam santos ou livres de pecados, apenas não são os vilões que se acredita assim que começamos a ler. São pessoas que sofreram, pelos erros de outras pessoas, pelas fraquezas de outras pessoas. Abandonados pela mãe, expulsos de sua casa e de seu país, tendo que lutar pela sobrevivência em um lugar onde não conheciam ninguém, não falavam a língua e tendo que cuidar de um pai alcoólatra. Qualquer um só pensaria em vingança, em revanche.
Aí conhecemos ou ficamos sabendo da existência de Melissa, ou Lissa, a filha do homem que destruiu a vida dos homens Stefanos ao seduzir a mãe dos, então, meninos. Para Leon, o mais velho dos Stefanos, ela é apenas mais um degrau de sua vingança. Para Lissa, a vingança de Leon é a chance de ser uma pessoa, mesmo que seja apenas como a arma de destruição contra seu pai, ele sim o verdadeiro vilão da trama.
Lissa é uma “não-pessoa”, não desejada pelo pai, não foi amada pela mãe e foi despejada pela amante do pai. Uma coisa, que servia apenas que um dia Quiron, seu pai, pudesse capitalizar novamente sua vida, ter de volta o luxo, o fausto e o poder que julgava um direito divino. Enquanto esse dia não chegava Lissa era apenas a empregada da casa do pai, não que Leon soubesse disso.
Os personagens são construídos de maneira crível, têm sentimentos, pensamentos e evoluem de um jeito muito humano. Lissa é uma pessoa que carece de autoestima, porque foi criada como um nada, sem direitos, apenas com deveres e obrigações. Leon é duro, porque ser sensível não colocaria comida na mesa para os irmãos.
O encontro de duas pessoas que não se conhecem e, ao serem obrigadas a uma convivência forçada, acreditam o pior uma da outra abre uma gama de possibilidades para a história, que é bem trabalhada, mostrando como a esperança, o carinho e amor podem nascer dentro de uma pessoa que se julgava incapaz de sentir qualquer coisa além de raiva e desejo de vingança. Além de como esse mesmo carinho, amor e esperança podem ajudar uma pessoa a crescer, perceber que é digno, que tem direitos, que pode sonhar.
Em uma leitura rápida é possível sentir raiva de Lissa, não pena, em momento nenhum o desenvolvimento inspira pena, mas se não analisarmos a fundo a personagem é possível ter raiva, por sua passividade e conformismo. Para quem ler com atenção nem mesmo a raiva vai aparecer, porque Lissa tem razões e motivos para ser como é.
Nada até aqui foi spoiler, tudo é contado por Lissa e Leon nos primeiros capítulos do livro.
Mais para o final, quando o casal decide assumir o que sente e tentam ter uma vida em comum a autora conseguiu introduzir momentos de ação, mas sem afetar o andamento e o entendimento da história. Aliás, sem essa ação, várias situações seriam mal explicadas, mas o fechamento pensado por Mônica foi coerente com a evolução psicológicas dos personagens.
Leon e Lissa são duas pessoas diferentes, com alguns pontos em comum, um deles é o abandono e a necessidade, mas é um casal que funciona e é atraente aos olhos dos leitores. Outro é o amor pela Grécia - pano de fundo para a história - mais precisamente pela ilha de Kirus
Não vou avaliar o português porque como falei no início da resenha o livro está passando por uma nova revisão para ser relançado na Amazon, os erros, tanto de português quanto de digitação presentes na edição avaliada não impedem a compreensão do texto.
Leitura mais do que recomendada para pessoas que gostam de histórias de amor e romances delicados. Sem contar que a escritora foge da tendência que atingiu o mercado brasileiro de escrever um manual de sexo, as cenas mais quentes são todas delicadas e quase inocentes.
site: http://www.conchegodasletras.com.br/2018/02/devaneios-da-bel-um-amor-como-vinganca.html