Alane.Sthefany 12/02/2022
Sobre a Brevidade da Vida ? Lúcio Anneo Sêneca
Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. - Tiago 4:14 ???
Como o nome do livro já diz, fala a respeito de quão breve a vida é (mas para aqueles que não sabem fazer bom uso do tempo que têm), na visão de um filósofo, o nome me chamou bastante atenção, pois sempre estudo sobre quão passageira a vida é, talvez seja por isso, que não achei tão inovador, porque criei bastante expectativas, mas tem ótimas reflexões, algumas até profundas. No ponto de vista do autor, quem pensa sobre si mesmo, sobre seus atos e sobre sua vida, são pessoas sábias, e que o oposto, que ele chama de "ocupados", são pessoas que apenas existem, mas de fato nunca viveram, e que só subtraem o seu tempo com coisas fúteis, na qual se tornam os piores dos miseráveis.
O livro nos ensina sobre quão valioso o tempo é e que devemos saber fazer uso dele, e se assim o fizermos, na verdade estaremos ganhando tempo e vivendo verdadeiramente ??
?? Spoiler ??
.
. Todos os trechos que eu gostei na leitura ??
. ???
Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A
vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização
das maiores coisas, sem a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na
indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente
constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que
tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num
momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom
guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo,
para aquele que sabe dela bem dispor.
Quantos não terão esbanjado tua vida, sem que percebesses o que estavas
perdendo; o quanto de tua vida não subtraíram sofrimentos desnecessários, tolos
contentamentos, ávidas paixões, inúteis conversações, e quão pouco não te restou
do que era teu! Compreendes que morres
prematuramente.? Qual é pois o motivo? Vivestes como se fósseis viver para
sempre, nunca vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou;
vós o perdeis, como se ele fosse farto e abundante [...] Como
mortais, vos aterrorizais de tudo, mas desejais tudo como se fôsseis imortais
Ouvirás muitos dizerem: ?Aos cinqüenta anos me refugiarei no ócio, aos sessenta
estarei livre de meus encargos.? E que fiador tens de uma vida tão longa? E
quem garantirá que tudo irá conforme planejas? Não te envergonhas de reservar
para ti apenas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já
não serve mais para nada? Quão tarde começas a viver, quando já é hora de
deixar de fazê-lo. Que negligência tão louca a dos mortais, de adiar para o
quinquagésimo ou sexagésimo ano os prudentes juízos, e a partir deste ponto, ao
qual poucos chegaram, querer começar a viver!
Conto entre os piores os que nunca estão disponíveis para nada, senão para o vinho e os prazeres sensuais, pois não há ocupação mais vergonhosa.
[...]
Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te
espantes, a vida toda é um aprender a morrer.
Cada um faz precipitar sua vida e padece da
ânsia do futuro e de tédio do presente.
[...] não há por que pensar que
alguém tenha vivido muito, por causa de suas rugas ou cabelos brancos: ele não
viveu por muito tempo, simplesmente foi por muito tempo.
Brinca-se com a coisa mais preciosa
de todas; contudo ela lhes escapa sem que percebam, pois é um incorporal e algo
que não salta aos olhos, por isso é
considerado muito desprezível, e em razão disto não lhes atribuem valor algum.
Os homens recebem pensões e aluguéis com muito prazer e concentram
neles suas preocupações, esforços e cuidados, mas ninguém dá valor ao tempo;
usa-se dele a rédeas soltas, como se nada custasse. Porém, quando doentes, se
estão próximos do perigo de morte, prostram-se aos joelhos dos médicos; ou, se
temem a pena capital, estão prontos a gastar todos os seus bens para viver.
Tamanha é a discórdia de seus sentimentos! Se fosse possível apresentar a
cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que podemos fazer com os
passados, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhes poucos anos e como
os poupariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora curto, é certo, deve-se
conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando há de acabar.
[...]
Uma vez principiada, a vida segue seu curso e não reverterá nem o interromperá, não se elevará, não te avisará de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Correrá tal como foi impulsionada no primeiro dia, nunca desviará seu
curso, nem o retardará. Que sucederá? Tu estás ocupado, e a vida se apressa; por
sua vez virá a morte, à qual deverás te entregar, queiras ou não.
Pode haver algo mais estúpido que o modo de ver de alguns ? falo daqueles
que deixam de lado a prudência. Ocupam-se para poder viver melhor:
armazenam a vida, gastando-a! Fazem seus planos a longo prazo; no entanto
protelar é do maior prejuízo para a vida: arrebata-nos cada dia que se oferece a
nós, rouba-nos o presente ao prometer o futuro. O maior impedimento para viver
é a expectativa, a qual tende para o amanhã e faz perder o momento presente.
[...]
Se não ocupares o dia, ele fugirá? E, contudo, se o tiveres
ocupado, ainda fugirá; portanto deve-se lutar contra a celeridade do tempo
usando de velocidade, tal como se deve beber depressa de uma corrente
rápida e que não fluirá para sempre.
Tal como uma conversa ou uma leitura ou alguma reflexão mais séria distrai os viajantes, que
se vêem chegados ao destino sem notar que dele se aproximavam, assim esta
contínua e tão rápida caminhada da vida, que dormindo ou acordados fazemos no
mesmo passo, aos ocupados não aparece senão no fim.
A vida divide-se em três períodos: o que foi, o que é, e o que há
de ser. Destes, o que vivemos é breve; o que havemos de viver, duvidoso; o que
já vivemos, certo.
[...]
O tempo presente é brevíssimo, tanto que a alguns parece não existir,
pois está sempre em movimento; flui e precipita-se; deixa de ser antes de vir a
ser.
Enfim, queres saber quão pouco vivem os ocupados? Vê como desejam
viver longamente. Velhos decrépitos mendigam em suas orações um acréscimo
de uns poucos anos; procuram parecer menos idosos e lisonjeiam-se com
mentiras e encontram tanto prazer em enganar a si próprios, que é como se
enganassem junto o destino. Mas, quando uma enfermidade qualquer adverte-os
de que são mortais, morrem tomados de pavor, não como se deixassem a vida,
mas como se ela lhes fosse arrancada. Ficam gritando que foram tolos em não
viver e que, se por acaso escaparem da doença, haverão de viver no ócio; então,
tomam consciência de quão inútil foi adquirir o que não desfrutaram, e de como
todos os seus esforços resultaram em vão.
[...] por mais curta que seja (a vida), ela é mais que suficiente; e
portanto, quando lhe vier o último dia, o sábio não hesitará em caminhar para a
morte com passo firme.
[...] põe ocupados devido a
um lucro infame e que um dia haverá de apodrecer.
As dignidades, os
monumentos, tudo o que a ambição impôs por decretos, ou construiu com o suor,
depressa há de cair em ruínas: não há nada que a longa passagem dos anos não
destrua ou desordene.
É extremamente breve e agitada a vida dos que
esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro.