erbook 31/05/2020
Leitura para leigos e acadêmicos
Terry Eagleton é professor de literatura inglesa na Universidade de Lancaster, mas esta obra não é direcionada para acadêmicos. Ao contrário, a leitura é simples e divertida com muitos exemplos práticos. Como não tenho formação nessa área, gostei muito da abordagem didática do autor.
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A obra é dividida em 5 partes. Na primeira, aborda-se a questão do que é literatura e sobre a importância dos inícios. “Obra literária consiste, em parte, em tomar o que é dito nos termos como é dito. É o tipo de escrita em que o conteúdo é inseparável da linguagem na qual vem apresentado. A linguagem é constitutiva da realidade ou experiência e não se resume a mero veículo”.
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Na segunda, explora-se o tema do personagem, com a distinção entre os personagens românticos e os modernistas. Os primeiros são indivíduos completos, complexos e verossímeis, enquanto os segundos põem em crise o conceito de identidade. “Em boa parte das obras modernistas, pode-se dizer que o verdadeiro protagonista é não este ou aquele personagem, mas a própria linguagem”. Os modernistas desmantelam a ideia tradicional de personagem.
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No capítulo 3, expõe-se as diversas formas de narrativa. Menciona-se desde o narrador onisciente àquele em que não se pode confiar inteiramente. Segundo Eagleton, há narradores que “são inconfiáveis a ponto de serem trapaceiros”. Uma vez mais, distingue-se a narrativa realista da modernista. “Muitos romances realistas podem ser vistos como dispositivos para resolver problemas. Criam adversidades para si mesmos e então tentam resolvê-los”. “As obras literárias modernistas e pós-modernistas geralmente se interessam menos pelas soluções. Preferem desnudar alguns problemas”. Para os modernistas, não existe uma grandiosa narrativa geral, mas muitas “mininarrativas, cada qual podendo ter sua parte de verdade”.
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No quarto capítulo, fala-se sobre interpretação, no qual se extrai que “a melhor maneira de ver uma obra literária não é como um texto com sentido fixo, mas como matriz capaz de gerar todo um leque de significados possíveis. Mais do que conter significados, a obra os produz”.
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No último capítulo, questiona-se o valor de uma obra literária. Dentre os vários critérios admitidos pelos estudiosos (profundidade, verossimilhança, unidade formal, apelo universal, complexidade moral, originalidade verbal), gostei da passagem que afirma que “um clássico da literatura, para alguns críticos, é não tanto uma obra de valor imutável, e sim uma obra capaz de gerar novos significados ao longo do tempo”.
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Recomendo muito a leitura!