Queria Estar Lendo 16/06/2018
Resenha: Sem Coração
Marissa Meyer ataca novamente (literalmente?). Dessa vez, com um livro único que vai te fazer rir e chorar (muito). Sem Coração (Heartless) é a história da Rainha de Copas antes de se tornar monarca do País das Maravilhas.
O livro nos mostra Cath, uma garota sonhadora e animada com a ideia de abrir seu negócio de bolos e doces - e que pode ver esse sonho arruinado quando se descobre admirada pelo Rei de Copas e possivelmente cortejada como sua futura esposa, especialmente com os arranjos da mãe e do pai, Duque e Duquesa de grande prestígio na corte real. Em meio aos anseios, à mágica bizarra daquele mundo e à surpreendente companhia de um Bobo da Corte, Cath precisa decidir se está disposta a abrir mão de tudo pela coroa ou se vai lutar para conquistar sua sonhada liberdade.
"Ela seria rainha, e rainhas... Não abriam confeitarias com sua melhor amiga. Rainhas não fofocavam com gatos meio-invisíveis. Rainhas não sonhavam com garotos de olhos amarelos e acordavam com limoeiros ao pé de sua cama."
Por ser um livro único, Marissa conseguiu estabelecer muito bem um desenvolvimento rico e impressionante para a história da Catherine. Afinal de contas, nós já sabemos quem ela é quando a Alice cai no País das Maravilhas. O que tornou Cath em uma Rainha cruel, enlouquecida e cheia de rancor, essa é a história que Marissa Meyer está contando. E, senhoras e senhores, preparem os lencinhos, porque vocês vão chorar.
"Mas ter esperança é como o impossível pode se tornar possível."
Cath é uma personagem bastante carismática, afiada em suas respostas e escorregadia em suas decisões. Eu fiquei apaixonada por toda a jornada que ela viveu; enclausurada em meio a uma família emocionalmente abusiva, Cath encontra em si mesma e em seus sonhos a chance de ser quem sempre desejou. De viver cozinhando e de ganhar o coração das pessoas através dos bolos e doces que adora fazer. Quando o bobo Rei de Copas abre os olhos para a garota, no entanto, Cath vê seus planos desmoronarem. Mas não completamente; há brechas e pequenas chances de mudar os rumos planejados por seus pais. Para isso, ela vai precisar de coragem e de um pouquinho de loucura - coisa bem comum ali no País das Maravilhas.
"Caso queira saber, Sr. Jest, eu costumo acreditar em seis coisas impossíveis antes do café-da-manhã."
O desenvolvimento de uma garota doce, gentil e sonhadora até a figura autoritária que conhecemos é marcado por importantes acontecimentos. A riqueza do País das Maravilhas é bem descrita pela autora, você vê todas as características dos personagens e do mundo criado por Carroll com uma vivacidade incrível. Os detalhes estão ali e eles são tão importantes, cada um deles. São tão incríveis e facilmente reconhecíveis, mesmo os mais sutis deles. Coisas que aparecem e te deixam "EU CONHEÇO ISSO, JÁ VI NA HISTÓRIA DA ALICE!". E, minha nossa, Marissa, eu te amo.
Sua convivência com os pais foi o que mais deixou meu sangue fervendo, porque minha nossa, que família abusiva! Eles são os típicos parentes desejando o melhor pra ela através de falar como "pare de comer ou vai ficar parecida com uma baleia" ou "só queremos a sua felicidade, por isso vamos te obrigar a casar com alguém que não quer." Eles são muito da parte sombria de Cath, o que a levou a se tornar uma vilã.
"Eu não quero ser Rainha! Eu quero... Não sei. Se algum dia me casar, eu quero que haja romance e paixão. Eu quero me sentir apaixonada."
Diferente dos pais, no entanto, sua convivência com Jest - o Bobo da Corte de Copas - foi maravilhosa. Eles se conhecem por acaso no primeiro baile do livro e se aproximam a partir de então. Tem toda uma química em cena que dá tremeliques e te faz acreditar que, mesmo com o futuro sombrio da personagem, pode haver uma saída. Um detalhe que vá mudar as coisas. Jest é um mágico alegre, cheio de vida e com alguns segredos que mudam bastante os rumos da história. Ele é uma figura que representa parte da liberdade tão sonhada pela Cath; ele é o desconhecido, o inalcançável, o louco apaixonante. Os dois se entendem a respeito desse anseio, dessa busca por algo difícil de conquistar.
"Eu estou ciente de que impossível é a sua especialidade."
Jest foi um amorzinho do início ao fim. Um pouco maluco e um pouco rebelde, ele fez muito bem para a Cath. Ofereceu chances e coisas novas, caminhos alternativos e arriscados que ela não teria encontrado sozinha. Se tem uma coisa que a Marissa Meyer faz muito bem é desenvolver os personagens conforme desenvolve o casal; não há nada forçado na convivência ou na aproximação. É algo natural, que você lê e se encanta porque tinha que acontecer, e acontece da maneira certa.
"Às vezes seu coração é a única coisa que vale a pena ouvir."
O Coelho Branco, a Lebre de Março, o Jaguadarte, muitos nomes bastante reconhecíveis fazem parte do cenário da Cath - e todos têm grandes participações nele. Mas o personagem que mais vale a pena mencionar é Hatta, o Chapeleiro. Ele é mágico e sombrio como todas as coisas naquele reino; é amigo de Jest e partilha de alguns dos segredos dele. Muitas coisas a respeito do futuro de Catherine são espelhadas e temidas pelo Chapeleiro; ele carrega medo das coisas inevitáveis e anseio de impedi-las. Hatta é um ótimo personagem, bem desenvolvido e surpreendente dentro do que já conhecemos do Chapeleiro. Ele se difere em muitas coisas que o personagem é, mas a essência está ali e você meio que prevê o que está vindo para ele.
"Duas Torres, um Peão e uma Rainha. É assim que a charada começa, mas como será que termina?"
Achei o inglês bem compreensível, de um nível médio. Para quem está acostumado a ler, é uma boa pedida. Tem vários termos estranhos por causa do País das Maravilhas, mas são facilmente identificáveis dentro da trama.
A narrativa da autora prende e encanta desde o começo. É o mesmo jeito de contar história de quem já está familiarizado com As Crônicas Lunares; a mistura de magia e sombra, de promessa de felicidade e um caminho árduo para tentar chegar lá. Eu sou apaixonada pelo modo como a Marissa conta suas histórias e em Heartless não foi diferente. É um conto de fadas cheio de escuridão e coisas ruins, mas é uma história pontuada pela esperança, sim. E o que a falta dela pode fazer com os corações.
Toda a história é fantástica, do início ao fim. Não pegue Sem Coração esperando por um final feliz, mas pelo início de um reinado sombrio. Afinal de contas, a Rainha de Copas é a vilã de uma história que ainda vai começar. O caminho que ela tomou para se tornar tal figura, no entanto, é fascinante e merece ser conhecido.
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