Maíra 28/09/2018Mamãe & Eu & MamãeMesmo com a resistência inicial da filha, aos poucos a mãe, dançarina e mulher de negócios, tão diferente de sua avó forte, porém bastante tradicional, ganhou o coração da jovem Maya Angelou. A relação das duas vai, assim, sendo reconstruída diante de nossos olhos, diálogo a diálogo, cena a cena, mesmo que seja, literalmente, uma relação de tapas e beijos.
“Aquela mulher, que parecia uma estrela de cinema, merecia uma estrela, merecia uma filha mais apresentável do que eu. Eu sabia disso e tinha certeza de que ela também saberia, assim que me visse”.
Senti falta na leitura, entretanto, de uma fluidez maior capítulo a capítulo. Isto porque em vários momentos os capítulos não tem propriamente uma continuidade, refletindo cada um um episódio isolado. Todos eles são importantes, tanto na vida de mãe e filha quanto na construção do relacionamento das duas, mas frequentemente parece faltar algo entre um e outro.
Ainda assim, essa questão torna-se apenas um detalhe diante do talento de Maya Angelou e da força de sua história de vida. Com uma narrativa forte, que não mede meias palavras para relatar abusos que sofreu, na infância e na vida adulta, a autora consegue colocar o leitor no seu lugar e fazer-nos sentir a dor de ser uma mulher negra em uma cultura que buscava maltratá-la de todas as formas possíveis.
Ela demonstra não só sua força e seu talento, mas a importância de sua criação e do exemplo de uma mulher marcante e ousada como foi sua mãe. Vivian Baxter a ensinou a insistir e nunca, jamais, deixar que qualquer um se colocasse entre ela e seus maiores desejos, assim como o fez a sua avó Annie Handerson. E é exatamente assim que nos sentimos ao final da leitura, diante de um exemplo tão impressionante: que, se tivermos a determinação necessária, nada pode nos parar.
“quer meus dias sejam tempestuosos ou ensolarados e minhas noites gloriosas ou solitárias, conservo uma atitude de gratidão. Se o pessimismo insistir em ocupar meus pensamentos, eu me recordo de que sempre existe amanhã. Hoje, eu sou abençoada”.
Embora fosse de se esperar que as fotos do arquivo pessoal de mãe e filha ganhassem destaque na edição, pelo tema do livro, elas estão todas agrupadas no meio de um capítulo, sem muita explicação ou referência a um período específico da vida das duas. As fotos interrompem, inclusive, um diálogo, quando seria bem melhor que elas servissem para ilustrar momentos específicos ou, pelo menos, estivessem entre capítulos.
De resto, porém, essa é uma excelente edição, com diagramação confortável e uma capa que conversa bem com o clima nostálgico e o pano de fundo amoroso da relação retratada. É uma ótima forma de introduzir ao leitor a vida e a obra de Maya Angelou, assim como nos fornece uma perspectiva interessante da vida de duas mulheres fortes, negras e que fizeram mais do que apenas sobreviver às terríveis condições que foram impostas a elas.
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