forbrekker 21/05/2023
Não sei se vou ler o próximo
Antes de tudo, quero dizer, eu tinha expectativas pra esse livro. Estive segurando pra ler ele há quase um ano, e devo falar, de algumas formas, senti decepção. Eu sei. Eu sei. Eu não queria vir fazer uma resenha falando de decepções, por incrível que pareça, e não vai ser de todo isso. É um livro bom, com uma história boa. Vou falar mais abaixo.
No começo, "A Guerra da Papoula" possui uma narrativa ágil, dinâmica, a qual segue um curso bem interessante e o qual prende o leitor. Com uma proposta interessante, ele traz uma fantasia estabelecida no Império Nikara, o qual sobreviveu a duas guerras da Papoula. Dentro disso, se há uma academia militar em Sinegard, onde apenas os mais prestigiosos conseguem entrar através do Keju, uma avaliação de escala nacional. Nossa protagonista, Fang Runin, vê isso como uma saída da vida dela em Tikany, uma província do interior. E nessa jornada, Rin descobre muitas coisas.
A partir dessa premissa, podemos ver que a proposta do livro é bastante interessante. Mas a autora foi além. A história em si é muito boa, trazendo elementos de várias culturas asiáticas de uma maneira extremamente interessante, inclusivae o sistema de magia criado pela R.F. Kuang é uma das coisas mais brilhantes nesse universo, a proposta de Deuses os quais querem um veículo - humanos - para poderem vir a Terra, mas ao mesmo tempo são meio que subjulgados ao que essas pessoas querem é algo inovador. Geralmente, arcos de corrupção por causa de poder são o poder controlando os personagens, nunca os responsabilizando por suas ações. A Guerra da Papoula fez diferente. Todos os protagonistas sempre tiveram o poder de escolha, todas as ações deles são responsabilidade deles.
Outra coisa que eu devo destacar é como a guerra é lidada nesse livro, a autora fez um trabalho excepcional em mostrar todas as consequências e dores de indivíduos os quais vivem em um país em guerra, as crueldades, os sentimentos, a humanidade, tudo junto. E ao mesmo tempo, ela não faz de uma maneira a criar uma carnificina, um gore, desnecessário. É uma narrativa com total responsabilidade na história que conta, sim, existem coisas horríveis que acontecem, mas são retratadas com uma tonalidade de respeito. Eu sei que é o mínimo, mas não vou deixar de pontuar. Todos os personagens sofrem e veem as consequências de todas as coisas que tão acontecendo no país, é algo pessoal, humano. E mostrar todas as consequências e sentimentos foi de longe foi a parte mais forte da segunda metade do livro.
Outro ponto que eu devo admirar é como a autora lida com a política e críticas a sociedade atual, de certa forma foi algo bem elaborado e bem construído ao decorrer da obra, e quando de fato chegamos a metade do livro, as coisas começam a se amarrar e tudo tem um certo sentido na cabeça do leitor, ao mesmo tempo que existe uma crítica escancarada a naturezas humanas e em como tudo aquilo afeta inocentes.
Agora a parte negativa. Sim, a história é muito boa, como eu destaquei lá em cima. A premissa é no mínimo excelente. O problema? A narrativa. Vejam, a narrativa é de longe a parte mais importante de um livro além da história, é como você se comunica com o leitor, é como se estabelece uma relação entre mensagem e receptor. E esse livro, infelizmente, tem uma narrativa que muitas vezes dá umas vaciladas. No começo, são vacilos perdoáveis, mínimos. Coisas que dá pra ignorar. Porém, quando a história vai progredindo, os erros começam a ficar escancarados. A narrativa em si não consegue estabelecer um ritmo, muitas horas é rápida demais em momentos que não pode ser, em outros, se arrasta. E é sempre fora do tempo. Muitas coisas entre os personagens viram apenas um ponto de interrogação na cabeça por causa da pressa desnecessária da história em pular pra próxima parte, é como se a própria narrativa não conseguisse se conter. Em contrapartida, outros momentos se arrastam e tornam a leitura totalmente difícil, não por ser complicada, apenas difícil mesmo de passar daquela parte.
Infelizmente, esse ponto negativo desencandeia vários outros em uma avalanche, uma bola de neve. Com a narrativa apressada, as relações entre os personagens fica confusa, algumas atitudes deles não tem sentido algum para com o que nos foi apresentado, algumas coisas que poderiam ser mais desenvolvidas, ficam no limbo. E é por isso que com um peso no coração (pois eu realmente estava ansiosa pra ler esse), eu dou um 3,5. A partir de uma falha grotesca, várias outras surgiram.
Sobre os personagens, só irei falar de dois. E está bem óbvio quem são.
A Rin é de longe o maior acerto, o maior ponto forte, a maior carta coringa de "A Guerra da Papoula", se não fosse por ela, eu talvez nem tivesse terminado o livro. Vocês não entendem, eu amei e simpatizei com ela desde o primeiro minuto. E o arco individual da personagem é quase impecável, todas as motivações e atitudes dela, todos os eventos e pensamentos que ela tem, são simplesmente de uma coisa sensacional. É algo de tirar o chapéu. Mas aí tem o nosso porém. Com a narrativa apressada, algumas coisas do desenvolvimento dela sofreram um certo estrago, principalmente as conexões dela com outros personagens e a progressão da evolução da personagem em si falham em alguns momentos que não poderiam falhar. Infelizmente. Porém, não deixa de ser de um feito incrível o que a R.F. Kuang fez na jornada de Fang Runin.
O outro personagem que eu quis falar sobre era o Altan. Sim, desde o momento que ele apareceu, eu já sabia que algo vinha. E devo dizer, não decepcionou. Ele tem um arco de desenvolvimento excelente, que traz motivações, personalidade e humanidade ao personagem, quase rivalizando com a Rin (mas ao mesmo tempo não chegando muito perto dela). O passado dele e o arco do personagem sendo algo que estava ali na nossa cara mas ao mesmo tempo não percebemos, para depois a autora conectar tudo foi genial. A minha parte favorita dele de longe é a conexão as suas raízes do personagem, e como ele ajuda a Rin a também estabelecer essa conexão. O único porém é o mesmo da Rin. Uma narrativa apressada que acaba fazendo partes ficarem falhas, dado a falta de um desenvolvimento mais aprofundado em certas coisas.
Em conclusão, A Guerra da Papoula não é um livro ruim. Muito pelo contrário, é bom. Muito bom. Mas em alguns momentos da leitura, infelizmente, os defeitos superaram as qualidades. Ao mesmo tempo que em outros eu me sentia tão imersa a história que não via nem o tempo passar. De alguma maneira, eu só...esperava mais. É isso. Eu tinha uma expectativa alta, que não foi cumprida. Talvez algum dia eu leia o segundo.