spoiler visualizararaujonei 23/07/2018
O que eu entendi... SPOILERS
Quando entramos num relacionamento criamos expectativas e sonhamos com tudo que esse relacionamento pode trazer, e é isso que Josh Malerman quis mostrar nesse livro.
Ao abrir o romance com a aceitação de Amelia ao convite de James ele nos coloca dentro do relacionamento dos dois, sem nos dar nenhuma base de como o casal se tornou casal, e com isso ele deixa muito claro qual o objetivo do livro: retratar o relacionamento de forma crua, sem dar margem para o que vem antes, pois isso não importa tanto no fim.
E vamos então, a Casa. Ela é uma metáfora às fases de um relacionamento.
Quando James entra primeiro na casa, mostra que ele é quem teve a iniciativa para começar tudo, mas é Amelia que encontra a casa, então ela é quem sempre buscou uma relação como a que se desenvolverá a seguir. E quando os dois entram na casa de forma alternada, isso da margem para que eles descubram aquela experiência de forma única para cada um. Tanto James como Amelia terão sua visão individual do que está acontecendo ali. Tanto é que os pensamentos dos dois em relação a Casa crescem de forma muito única.
Mas devemos notar que Amelia entra mais fundo na Casa do que James, em todas as vezes, e por isso mesmo ela começa a tomar as decisões por ele, enquanto que James passa apenas a segui-la. Amelia dita a regra: não pergunte como nem por quê.
Essa pequena frase já mostra o quanto a relação dos dois será diferente para cada um. Assim como será a casa. Amelia fica o tempo todo maravilhada com a Casa e todo aquele mundo lá embaixo, no fundo do lago, onde eles podem viver sozinhos, em paz, sem que ninguém os incomode. Enquanto James, mesmo aceitando os termos que Amelia impõe, não deixa de ter curiosidade em saber por quê tudo naquela casa permanece intacto, mesmo que não devesse ser assim.
Eles têm cada vez mais curiosidade em descobrir os segredos da casa, assim como acontece num relacionamento. Amelia, logo após sua segunda ida até a casa, pergunta a James “Podemos ficar com ela?”. Nesse momento é selado o relacionamento dos dois. Não há mais indivíduo, e sim o casal. Ela o beija primeiro, ele quer mais. E assim segue.
Durante todo o tempo eles sentem que há alguém os observando. Mais uma metáfora. Por mais que a gente tente manter uma relação reservada, sempre haverá algo que possa interromper a paz entre um casal, e essa permissão a participação de terceiros numa relação pode causar a iluminação por uma das partes (sobre como o relacionamento tem se desenvolvido) e até mesmo instaurar o caos ali. A partir do momento em que eles se veem observados, o medo entra em cena.
Quando eles entram na casa juntos, vem o episódio do pimenteiro. James compara aquela situação com o Jardim do Éden e a maçã. Se ele tentar descobrir como tudo funciona, ele estará comendo a maçã e tudo pode ser destruído. Mas ele precisa descobrir como tudo está ali, tão intacto, mesmo mergulhado na água. E é após essa cena que tudo começa a desandar.
Lembrando que Amelia sempre descobriu mais da casa, a gente percebe que ela sempre toma as iniciativas. E ela o convida para tomar a casa como lar. Ela o convida para transar dentro da casa. E quando eles fazem isso, eles finalmente sentem que outra pessoa está ali, observando-os. Há o momento de vergonha, de medo, de pavor. E então eles decidem que é hora de deixar a Casa. Mas mesmo após uma semana, eles não conseguem esquecê-la. Assim como não se consegue esquecer um amor tão fácil assim. Pois eles estão apaixonados. Eles querem estar juntos. Eles querem a Casa. Ela os convida a retornar.
Mas nesse meio tempo, temos a simbologia da água a ser compreendida. Em todas as culturas, a água representa a vida. Ali naquele lago, com a água cobrindo a casa, eles têm o relacionamento forte, vivo. Mas quando eles saem dali eles não conseguem manter nada. Não conversam, não se veem. Tudo fica seco entre eles. Mas depois de experenciar o que acontece na casa, mais uma vez, os dois tem formas diferentes de enxergar isso.
James se vê sufocado por tudo. Pelo peso da relação e pelas expectativas que Amelia coloca nele. E com isso ele se vê sufocado pela água no próprio quarto. Já Amelia sente a água como uma companheira. Ela só pensa em voltar a Casa, ao Lar deles. E então ela decide que eles devem se apresentar, e diz “Nós também moramos lá, James”.
Quando eles retornam a casa na tentativa de encontrar a pessoa que lá vive, temos mais dois elementos a serem notados. Quando Amelia segue os passos e deixa James para trás, ele começa a se perder. E depois de muito procurar Amelia, as luzes se acendem. Ali nós temos a compreensão que atinge James. Ela o abandonou numa casa escura e seguiu alguém que não conhecia. Ela o deixou pelo desconhecido. A luz representa a compreensão. James e Amelia tem uma relação frágil, e mesmo sabendo que perdeu tudo, James entende que é o certo.
Enquanto isso, Amelia segue uma figura que não tem rosto, ou membros moldados. É feita de cera. A cera é moldável. Como os sonhos. Amelia quer moldar toda a relação ao que ela deseja. Ela percebe que isso é errado, pois a luz também chega a ela e ela enxerga a casa como ela é, enxerga a figura que ela quer moldar, e escolhe seguir nesse intento. Mas no momento que ela o faz, a casa desaparece. E junto com a casa, a convicção de James de que aquilo daria certo. A casa existia por que era um sonho dos dois. E agora James não o tem mais.
Ao final do livro, quando os dois decidem terminar e cada um segue seu caminho, Amelia enxerga a casa mais uma vez. Ela tem certeza de que é a Casa do fundo do lago, mas agora ela está trancada, com a porta fechada. Para que a porta estivesse aberta, os dois deveriam enxergá-la, mas James não a vê. Ele não quer mais aquilo, Amelia a vê por que no fundo ela ainda deseja viver aquela experiência.
E assim tudo acaba. A casa não existe mais para os dois. O relacionamento deles acaba. E o livro, finda ali.