alineaimee 22/11/2011Publicado em 1881, Memórias Póstumas de Brás Cubas aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.
Comentando mal e porcamente, Machado alia nesse romance profundidade e sutileza, expondo muitos problemas de nossa sociedade que existem até hoje. Daí o prazer da leitura e a importância de seu texto, pois atualiza de forma irônica os processos em que nosso país foi formado, suas contradições e os desmandos que ainda estão presentes. O narrador em primeira pessoa se refere ao leitor o tempo todo, dando-lhe instruções de leitura, broncas e debochando dele.
Machado é gênio! Menos que isso é injustiça. Ele constrói um texto que se passa por palatável, compreensível para leitores médios, mas que na verdade traz um subtexto bem mais provocador e ferino, somente acessível a leitores perspicazes e experientes.
Mémórias Póstumas é uma obra prima que reúne inovação linguística, análise social profunda, intertextualidade, refinamento. É debatido exaustivamente na academia, no exterior inclusive, tamanha sua complexidade e merece infinitas releituras. Machado é autor pra bater no peito e morrer de orgulho da nossa literatura, porra!