Gabi Guerra 09/07/2021
Um tiro no coração, mas o sangue que jorra faz milagre
Buchi escreve de forma direta e sem floreios.
O melhor da obra é que ela te prende: a leitura te induz a continuar. Mesmo que a temática não seja leve, a força da mulher africana torna a narrativa poderosa e transformadora.
O livro trata de um assunto tenso: a condição de subcidadão dos imigrantes africanos/latinos em países de “1º mundo”. No caso de negros na década de 70, período do livro, é ainda mais gritante o racismo/preconceito, mas mesmo hoje os cidadãos de 2ª classe seguem sendo os mesmos.
É primordial reconhecer que vangloriar culturas imperialistas e que só cresceram às custas de outros países, esmagando outras cultura, é um equívoco. Nisso é preciso sempre reforçar o óbvio: brasileiro, ainda que de pele clara, nos EUA, por exemplo, são cidadãos de 2ª classe. Mesmo com dinheiro? Sim. O estigma do subdesenv. do Estado impregna a pele, o sotaque e o que quer que seja notado como “diferente”.
Sobre a história: Ada era uma nigeriana que alcançou sucesso na sua terra por meio da sua inteligência e resistência, era rica, era elite. Mesmo com poder financeiro, porém, ela precisou casar, sendo mulher ela não era muita coisa pra sociedade. O marido vai para o Reino Unido e em sequência ela o acompanha: com seus dois filhos.
Na Inglaterra eles eram pessoas descartáveis: não podiam morar em vários bairros, não podiam pleitear vários empregos e acabaram sendo pobres e passando necessidades. Mesmo que ambos fossem estudados, a cor da pele lhes fechavam portas.
Alem de tudo,Ada era uma mulher muito fértil e a cada investida do marido engravidava. Seu marido não trabalhava, demandava o tempo todo, não ajudava com os filhos, além de violentar fisicamente, moralmente e sexualmente a esposa. Nada de diferente para o machismo escancarado que regia as vidas na Nigéria - mesmo as que estavam na Europa.
Ada/Buchi é incrível. Pela história autobiográfica podemos conhecer mais sobre a autora e valorizar ainda mais sua trajetória. Ainda que nesse contexto inglório, Buchi/Ada se tornou escritora e criou seus 4 filhos com tudo que lhe foi possível garantir, sem ajuda da sua pátria, do país de primeiro mundo, ou do marido.
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