MBressan 21/07/2019
Ter filhos, culpa. Usar métodos contraceptivos, culpa. Querer estudar, culpa. O marido trabalhar, culpa. Não ter dinheiro suficiente, culpa. Qualquer acontecimento com os filhos, culpa. E assim sucessivamente. A leitura lembrou uma frase que ouvi certa vez (e não me recordo a fonte) que dizia que se procurássemos por uma mulher sem culpa, acharíamos um homem.
O livro traz em uma leitura fluida, mas intensa e dolorida, a vivência de uma mulher nigeriana que se muda para a Inglaterra e vive na pele (literalmente) os contrastes culturais. A maior parte da leitura se refere aos próprios pensamentos da protagonista, angustiados, questionadores, repletos de sonhos e, concomitantemente, imersos em culpa e em ideais conservadores. Usando um trecho do próprio livro que descreve muito bem a leitura: (...) Ela escrevera aquilo como se houvesse alguém falando, falando depressa, alguém que nunca mais ia parar de falar.
Ao mesmo tempo que traz à tona o patriarcado nigeriano, coloca o calor afetivo da Nigéria em contraste com a frieza europeia, incapaz de enxergar Adah em suas minúcias, intensificada em racismo e exclusão àqueles que são relegados a cidadãos de segunda classe.
Emecheta descreve muito bem as dores e as lutas de ser colocada como cidadã de segunda classe sob diversas posições: de criança órfã; de mulher; de negra; de migrante; de mãe; de classe social.