Nu e As 1001 Nuccias 12/02/2019Resenha Blog As 1001 NucciasEu não sou fã de Natal, mas se tiver que ler outro conto desse tipo, juro que posso mudar! E faço resenha com prazer dobrado!
O conto da Jubs é daqueles que podemos ler "em uma sentada" (não consigo dizer isso sem rir safadamente, sim, eu sei que tenho problemas sérios), mas eu li em duas noites, porque é o meu horário principal de leitura.
A história é basicamente o título. A família Vieira precisa se reunir no Natal para atender ao último desejo da Vovó Olegna: juntar filhos e netos para assistirem ao vídeo que ela deixou gravado. Só que juntar uma família que se odeia é bem complicadinho, não acham?
"No vidro antigo do aparelho estavam os reflexos daqueles sete pobres diabos. Duas crianças, um jovem metido a músico, e quatro filhos órfãos de pai e mãe que mal podiam olhar na cara uns dos outros."
Pois bem, os 4 filhos de Olegna aparecem com alguns de seus filhos, muitos dos outros netos não. Sorte a deles. Mesmo assim, o vídeo é exibido e qual não é a surpresa ao descobrirem que a Vovó não é tão boazinha assim! Anos definhando na cama com uma doença, a velhice tomando conta, Vovó tinha umas cartas na manga.
E assim que o vídeo termina de ser exibido, o espetáculo começa. Uma tempestade de proporções homéricas estoura lá fora. Os Vieira se descobrem lacrados dentro da casa. Portas e janelas misteriosamente trancados. Sinal de celular? Mas nem! Luzes falhando. A ceia apodrecendo na mesa.
E então, as mortes. Um por um.
"Eu vou morrer. Não posso partir desse mundo sem falar uma coisa muito importante para a família que Deus me deu. Eu odeio vocês. Isso mesmo, eu odeio todos vocês."
O interessante é que cada um dos presentes sempre teve uma opinião formada sobre o outro e, como qualquer família, viviam das aparências, externando muito pouco. Mas estarem presos juntos, dentro de uma casa do qual todos fugiram, encarando-se o tempo inteiro e tendo de aguentar aquelas personalidades que tanto odeiam, faz cada segredo sujo vir a tona, cada xingamento ser proferido, cada decepção ser atirada nas faces uns dos outros.
Jubs destrincha a personalidade de cada familiar através da visão do outro. A dedicação exacerbada, a avareza, o complexo de Édipo, a psicopatia, a crença fervorosa, o ceticismo.
As mortes não poderiam ser as melhores! E resta a dúvida: a vovó fez mesmo um pacto e o diabo está entre os Vieira, exterminando-os a mando da idosa, ou... bem, nem posso analisar o final, pois seria um baita spoiler.
"O escarcéu de uma família cometida pela desgraça é coisa que se reconhece de longe, em qualquer lugar do mundo. Não tem língua nem credo. É só dor."
Eu conheço a Jubs desde o lançamento da segunda edição da Libélula, acompanhei os lançamentos de O Lago Negro, vi de perto a sacanagem da Arwen e pulei de alegria quando vi a contratação de Lacrymosa pela Bertrand Brasil.
Sua escrita sempre teve toques sombrios, mesmo que o foco não fosse matar leitores de susto ou de medo. Esse conto só vem mostrar que, desde a escrita de Lacrymosa, ela está mais do que preparada para fazer parte do grupo de autores que tocam o terror,
Gostei bastante, estou ansiosa por Lacrymosa e espero que os demais livros já escritos (sim, tem váááários) consigam sua casinha editorial em breve para que mais leitores possam morrer infartados e felizes.
"Para criar uma maldição, basta regar o solo com sangue e algum sofrimento."
O Natal passou, a ceia estragou, será que saiu algum Vieira vivo? Vai conferir. Vale a pena!
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