Andre.Pithon 26/07/2023
Bingo de Fantasia/Sci-fi 2023
3.4: Multiverso e realidades alternativas
Modo difícil: Personagens não viajam através de uma porta literal
Existe algo mais pessoal e intimo que ler as palavras de outra pessoa? Palavras construídas para você, que expõem uma alma, um estilo, uma vulnerabilidade. O lento decair das camadas e máscaras com que envolvemos as primeiras trocas até sobrar a pura e avassaladora verdade do derreter-nos em palavras? Cartas são uma tradição romântica eterna, sentimento sangrado no papel, imortalizado enquanto for imortal.
As vezes me sinto romântico demais, me apegando em detalhes que tornam-se mais poderosos que o todo. Então é sempre bom encontrar algo mais ainda corajosa e insensatamente apaixonado, e This is How You Lose the Time War com certeza o é, genuíno, completamente confiante em seu vocabulário difícil, em suas declarações exageradas, em um amor que torna toda uma guerra multiversal insignificante. Porque é. Pois você escreve, e a outra pessoa lê, e escreve de volta, e todos universos somados são menores que aquele inexistente que vocês construíram apenas para vocês dois.
This is How You Lose the Time War é lindo.
Duas pessoas em lados opostos da guerra, Vermelho e Azul, o que leva a infinitos jogos de palavras com as cores que as nomeiam (Jamais poderia verde se apaixonar tão bem, por falta de sinônimos agradáveis para essa cor ridícula e difícil de descrever). O livro alterna entre dois estados, passagens pelas operações feitas pelas protagonistas por múltiplas linhas do tempo, interessantes, por vezes pintando cenários únicos e situações pitorescas, mas nunca se demorando muito em nada, apenas construindo contexto para o amor. E o segundo, as cartas entre as duas mulheres, começando em uma competitividade brincalhona, e crescendo até engolir tudo que existe e restar apenas delicioso amor mastigado, doloroso, belo e perfeito.
A escrita é intricada, bonita, cheia de jogos de palavras e passagens poderosas, e cada protagonista tem uma voz distinta e única, o livro tendo sido escrito por dois autores diferentes, mas que encaixam, fazem sentido, mesclam-se em uma unidade que vai e vem, cada poucas páginas uma lufada de ar fresco, nunca permanecendo muito tempo parado, e tornando a leitura rápida, deliciosa, fácil; mesmo com um vocabulário por vezes ridiculamente desnecessário. Mas quem nunca pontuou uma carta de amor com uma palavra exagerada apenas porque podia? Porque seu coração pediu? Amar é indulgência, e a prosa púrpura indulgente e pesada encaixa com uma perfeição adorável.
A alguns meses, após uma recomendação viral de Bigolas Dickolas no twitter, este livro estourou em popularidade, ascendendo a um dos mais vendidos e permanecendo no topo um tempo considerável. Ótimo. É onde merece estar, um amor a ser celebrado, que eclipsa todo o intricado e complexo panorama de ficção científica que o envolve porque, no fim, nada daquilo importa. Faz bem ver a popularidade atingido algo que merece. Algo que não tem vergonha, orgulhoso do quão arrebatadoramente meloso é.
Gargalhei. Sorri como um idiota. Uma ou duas lágrimas no final.
Magnífico.
O livro, e o amar.