mpettrus 20/12/2022
A Falsa Complexidade de Um Romance Adorado
??Os Sete Maridos de Evelyn Hugo? é a história sobre a renomada atriz de Hollywood Evelyn Hugo que, após décadas de sucessos de bilheteria e glamour, aos 79 anos está pronta para dar uma entrevista exclusiva depois de anos se esquivando da imprensa. A escolhida para presidir a entrevista é uma jornalista desconhecida chamada Monique Grant. Ela vai até a casa da atriz e descobre que ela não quer apenas dar uma entrevista - ela quer expor cada episódio de sua vida íntima e pessoal para a jornalista escrever e vender sua biografia.
?A personagem-título é uma protagonista feminina forte. Ela é amorosa, implacável, cruel, gentil, poderosa e pessimista. Em contrapartida, a personagem Monique, a jornalista, é extremamente mal desenvolvida. Ela é muito unidimensional, de uma escassez narrativa que simplesmente me fez questionar qual era o objetivo de sua trama, afinal. Para mostrar que ela poderia se afastar do marido? Para mostrar que ela poderia conseguir o emprego que desejasse? Qual era o sentido de sua mãe vir para a cidade? Eu queria gostar de Monique, mas ela era tão indiferente na história que foi difícil conectá-la na história de maneira geral.
A sensação que eu tive é que se tirássemos a Monique da história, a narrativa continuaria forte o suficiente para seguir em frente porque a jornalista não me pareceu nem um pouco importante aqui. Conveniência narrativa é algo que não me agrada muito, vejamos: Monique não fez uma pergunta ?astuta? para a Evelyn. Achei que fazer perguntas inconvenientes fazia parte de entrevistar uma pessoa famosa. À priori, eu pensei que ela seria o contraste com a protagonista que é quase vilanesca. Ledo engano: Monique é apenas um acessório narrativo para a autora usá-la ao final da história como um grande Plot Twist, que verdade seja dita, você já desconfia logo no começo da leitura, justamente porque Evelyn insiste em ser entrevistada somente por essa mera jornalista desconhecida do mundo das fofocas de celebridades.
Outro ponto que quero destacar é o quão Evelyn, a protagonista, é vendida pelo Bookstan como uma personagem complexa e moralmente cinzenta. Eu amo personagens moralmente cinzentos. Eles são provavelmente os mais interessantes para ler e "dissecar". Mas Evelyn não é moralmente uma personagem cinzenta, na minha opinião. Porque personagens moralmente cinzentos fazem coisas erradas principalmente pelos motivos certos. Ou fazem coisas boas por motivos errados - Evelyn fez tudo na vida por apenas unicamente dois motivos: fama e dinheiro. Mesmo que ela afirmasse o contrário, sempre foi sobre fama e dinheiro.
?A literatura ?young adult? norte-americana do século XXI é permeada de vícios e com uma característica comum de seu gênero: pequenas doses de moralidade prescritiva. Pareceu-me que a autora não quer que eu, enquanto leitor, formule a minha própria opinião acerca dos fatos e, principalmente, da personalidade das personagens. E a autora me apresentou uma narrativa com uma prosa boba e sentimental, implausível carregada de truísmos em um enredo visivelmente simplista e artificial.
Muitas das discussões sobre raça e sexualidade me pareceram terrivelmente forçados. A autora foi muito ?descarada? em escrever sobre pautas das quais ela não tem domínio de discutir ou sequer, vivências para contar sobre. Achei de um oportunismo de revirar os olhos.
?A própria história da Evelyn não passou uma verdade crível de tudo que ela passou enquanto cubana-americana. Sinto que a autora falhou miseravelmente em narrar as nuances necessárias para contar a jornada de uma cubana-americana que obteve sucesso na Era de Ouro de Hollywood. Falhou totalmente em retratar as nuances de como alguém como Evelyn, com sua identidade racial teria um impacto na maioria das coisas que ela experimentou na vida. E imediatamente a protagonista cai no estereótipo da latina sexy, sensual e provocante.
Realmente destetei ver que a personagem foi reduzida nesse fetiche, muito próprio da sociedade norte-americana. Não vou nem entrar no mérito da Evelyn se aposentar na Espanha para fazer tortilhas, reconectando-se com suas raízes cubanas ou de como Monique se distancia ativamente da sua negritude, sem nunca questionar o impacto de ser criada por uma mãe branca solteira após a morte de seu pai negro.
?E, por fim, o relacionamento central retratado aqui foi o meu problema com este livro. O romance de Evelyn e Célia é vendido como uma grande história de amor. Esse "grande amor" era abusivo, desgastante emocionalmente, que por vezes, beirava a infantilidade. Era infantil, permeadas de brigas bobas, a clássica cena clichê da briga na piscina, onde ambas dizem coisas que nunca poderiam ter dito e uma vai embora para sempre.
Célia nunca foi uma das minhas favoritas. Ela precisava ouvir que era amada o tempo todo. Ela ficava com muita inveja de qualquer homem que entrasse em contato com Evelyn. Pelo amor de Deus, ela ficou com inveja de um homem gay. Ela também não a tratava com o respeito que ela merecia. Ela a chamou de prostituta. Ela nunca tentou ver as coisas do ponto de vista de Evelyn.
? Fiquei abismado que foi com esse material que a autora vendeu para o público uma ?grande história de amor?. A única maneira da autora escrever problemas de relacionamento era tornando o interesse amoroso horrível. Eu não estou dizendo que isso não aconteça na vida real, mas depois da primeira vez que esse tipo de coisa acontece, eu gostaria de ver as personagens crescerem e aprenderem a lidar como adultos e não agindo ?ad aeternum? como duas adolescentes de 16 anos. Pareciam ?duas mulas teimosas? para fazer as coisas funcionarem.
? Gostaria de dizer que amo Evelyn. Porém, não conseguir nem odiá-la. Eu merecia mais como leitor, francamente. Não posso, de boa-fé, recomendar que alguém leia este livro. Definitivamente não vale a pena, mesmo com todo o potencial que essa história tem. As memórias superficiais da protagonista são entediantes.
Vou dizer a mim mesmo que esta é a última vez que estou lendo um livro sensacionalista que todos adoraram, mas todos sabemos que não é verdade e que nunca vou aprender. Como Abraham Lincoln observou: " Para aqueles que gostam desse tipo de livro, é exatamente o tipo de livro de que gostariam." O que não é meu caso.