erbook 27/02/2021
Apologia à cultura teatral!
Nesta apologia à cultura teatral, Arlette Pinheiro da Silva, nossa gloriosa e premiadíssima atriz Fernanda Montenegro, com lúcidos e experientes 90 anos de vida, nos mostra em suas memórias os meandros e as dificuldades em ser artista na sociedade brasileira.
Não se trata de biografia da atriz, mas de suas memórias, as quais não seguem uma narrativa linear e cronológica. Por isso, a boa sensação que tive ao ler estas lembranças foi como se estivesse ouvindo minha querida avó contando histórias de “seu tempo”, sempre com a carga emocional de quem viveu tantas experiências ao longo da vida.
Fernanda Montenegro valoriza seus antepassados, imigrantes italianos (lado materno) e portugueses (lado paterno), contando as aventuras que realizaram para chegar ao Brasil e para sobreviver no País. Relembra situações marcantes de sua infância pobre no Rio de Janeiro, da diversão de ir ao cinema com a família, da sensação de preocupação das pessoas comuns durante a II Guerra Mundial, com racionamento de comida etc.
São muitas histórias contadas, relacionadas a diversos artistas, diretores, políticos e empresários do meio cultural, bem como sobre momentos históricos nacionais, que nos fazem perceber a grande força de vontade de Fernanda Montenegro na luta pela arte, especialmente no teatro (sua grande paixão), passando por dificuldades financeiras e outras intempéries.
Após o início de sua carreira na antiga rádio MEC, apaixona-se pelo teatro e ao lado do grande ator Fernando Torres constitui família e passa a viver exclusivamente da arte que escolheu como profissão de fé – ser atriz. Não foi fácil conseguir estabilidade financeira, mas com muita perseverança insistiu no ofício e nos brindou com papéis memoráveis na TV, no cinema e no teatro (e nos encanta até hoje).
Descobri, por meio deste livro, que no início o teatro nacional era dependente de diretores estrangeiros e não havia espaço para autores nacionais. A maioria das peças apresentadas eram de grandes escritores estrangeiros, tais como Shakespeare, Molière e Samuel Beckett. Demorou para que dramaturgos brasileiros ganhassem espaço no nosso teatro.
Por fim, menciono que há momentos de forte emoção nas memórias, especialmente quando ela aborda a doença e os últimos anos de Fernando Torres, bem como a perda de outros grandes artistas como Paulo Autran. Porém, há também vivências felizes no seio familiar com os dois filhos (Fernanda Torres e Cláudio Torres), o genro Andrucha Waddington (produtor e diretor) e os três netos.
Recomendo a leitura!