Léo Pavani 14/05/2024
As intermitências da morte - José Saramago
A morte decide suspender suas atividades. Nenhum habitante daquele país vai morrer, independente se estiver doente, ou à beira de um acidente ou simplesmente vítima de causa natural ou do acaso. Com isso, a população começa a se desesperar, a Igreja não faz mais sentido, as funerárias perdem sua importância, a política e a economia entram em crise e os hospitais em colapso.
Aquilo que antes era o mais temido da vida, passa a ser a busca pelo futuro: a morte. Diante dessa perspectiva social, Saramago traz o que a ausência dela causa em uma sociedade.
No meio do livro temos uma virada na história, quando uma misteriosa carta é entregue ao diretor geral de televisão, pedindo para que fosse lida para todo o público o que viria a acontecer depois de tanta perturbação.
Saramago traz a figura personificada da morte, com todos os trejeitos que um dia pudemos imaginar: o esqueleto coberto por uma manta e o apoio de uma gadanha. Diante do caos, a morte passa por linearidades como qualquer outro personagem que lemos.
O autor tem uma relação direta com nós leitores e embora o "padrão Saramago", com parágrafos extensos e apenas com pontos e vírgulas, acompanhar a história não foi difícil. Temos uma linguagem filosófica, cômica, fluida, com diálogos interessantes e perspectivas que se assemelham e divergem com as nossas.
Para um primeiro contato com o autor, me surpreendi e espero conhecer outras histórias.
"Nem tudo é festa, porém, ao lado de uns quantos que riem, sempre haverá outros que chorem, e às vezes, como no presente caso, pelas mesmas razões." - Pág 25.