Rodrigo 16/03/2023
Ufas, terminei...
Acabei de encerrar Torto Arado, o livro brasileiro mais amado atualmente... gostei de conhecer um lugar ermo do agreste baiano, habitado por um povo tão simples quanto místico; as imagens do sítio onde moravam Bibiana e Belonisa ainda estão claras na minha mente, e o texto bem construído remonta o tempo dos nossos avós, em que as relações amorosas eram mais baseadas nas necessidades de sobrevivência do que em livres escolhas.
A saga se passa no início do século XX, quando a abolição já era um fato, mas não uma realidade. A narrativa é feita em primeira pessoa pelas irmãs, basicamente sobre famílias de trabalhadores rurais negros em uma grande fazenda, inseridas num regime onde o homem trabalhava sem salário na lavoura principal e recebia a cessão de um terreno para construir casa e fazer uma roça de subsistência. As crianças crescem numerosas, e desde cedo aprendem as coisas da terra, as crenças africanas e os trabalhos domésticos, e, logo que amadurecem e experimentam as primeiras paixões, um novo núcleo familiar é formado.
A vida das duas irmãs é sempre muito sofrida, desde crianças até a fase adulta, com pouca comida, pouco estudo, poucos amores e poucos bens; mas os laços de sangue e a amizade que as une ao longo dos anos são elementos preciosos na arte de aceitar seus destinos, ainda que lutem contra.
O livro teve como mérito retratar fielmente um período da história brasileira até então pouco explorado na literatura, e que ajuda a explicar o quadro de desigualdade social em que permanecemos até hoje; contudo, como obra literária e como entretenimento, não funcionou comigo. Apesar de reconhecer o esmero na construção dos personagens, o livro foi ficando bem chatinho conforme fui me aproximando do final, a ponto de me sentir profundamente cansado. Mas não desistirei jamais da literatura nacional, que já me deu tantas alegrias e certamente ainda me trará outras no futuro.