Rayssa 09/09/2020
"Quando o mundo nos derruba incontáveis vezes, a alegria passa a ser um dos bens mais valiosos. Depois da dor, aprendemos a valorizar o amor que recebemos gratuitamente, os privilégios com os quais o mundo nos presenteia e, principalmente as oportunidades de recomeçar que batem à nossa porta".
Livre para recomeçar é um romance de época nacional, que trás como pano de fundo o Rio de Janeiro no ano de 1880. A narração retrata de maneira escancarada o racismo aflorado em uma sociedade escravocrata e, como grande parte da população é tratada como posse dos homens da elite aristocrática.
A narração não aborda somente o racismo estrutural da sociedade, ressalta também aspectos de como as minorias são rejeitadas, ao receberem títulos como: bastardos, ou serem mulheres que engravidam antes do casamento ou se envolvem com homens negros, ou simplesmente por se vestirem, pensarem, portarem de maneira diferente daquilo que é considerado um padrão, e revela desta forma o quão a elite trata com repulsa o diferente.
O livro retrata com muita dor o casamento extremamente abusivo e tóxico entre a protagonista e um conde. No qual, ela deve permanecer calada e obedecer fielmente as ordens do marido, seja na escolha de um vestido ou até mesmo no próprio penteado. E quando está mulher resolve confrontar o mesmo, é taxada como histérica, louca e internada em um hospício por três anos.
As mulheres como um todo neste livro carregam consigo as marcas de homens que as diminuíram, machucaram e tentaram lhes tirar a vontade de viver e ser livre, mas mostra o quão elas são persistentes para se tornarem livres para recomeçar.
A escrita da Paola é incrível, o livro é fluído e a verossimilhança é tanta que em algumas cenas pode lhe causar arrepios, além disso, ela trás um considerável número de personagens secundários o que faz a obra ainda mais enriquecedora. Há também uma grande abordagem psicológica nos personagens principais, relatando os seus sentimentos de maneira bem trabalhada.
Neste livro, que considero um dos favoritos deste ano, sofri e muito nos relatos de relacionamentos abusivos e no racismo, que infelizmente ainda possui reflexos em nossa sociedade. Entretanto, também vi que o amor é capaz de curar feridas, e fazer acreditar e sermos pessoas melhores, e que afinal, todos nós somos livres para recomeçar.