spoiler visualizarAne Elyse Fernandes 25/01/2020
Que história de vida!
Nadia é uma sobrevivente yazidi, que com a sua voz e a triste história de vida, expõe ao mundo as atrocidades que o Estado Islâmico promoveu na sua saga perversa de conquistar territórios, pregar uma visão torcida e ultra-conservadora de sua religião, bem como, ao defender o extermínio das minorias étnicas e religiosas que ali existiam no Iraque.
A leitura desse livro é difícil, pesarosa, com vários gatilhos e que nos leva à inúmeras reflexões sobre o que é a vida e como estamos comumente vulneraveis, apenas pelo fato, de sermos quem somos. A violência, o ódio e o preconceito contra o outro - que é diferente daquilo que eu acredito e defendo - tornou-se a maior arma e justificativa que engendrou todo o genocídio que os yazidis enfrentaram ao se verem a mercê do ISIS. Mães, filhas, sobrinhas.. Homens e mulheres.. Que sofreram as mais terríveis perdas, humilhações e violações.
Nadia, ao contar toda a sua história, não esconde as disputas geopoliticas e de poder que permearam o cerco do Estado Islâmico à Kocho - como a ausência de ajuda dos Estados Unidos e do governo iraquiano, além da evasiva curda nas fronteiras de tal território -, bem como, elucida como as mulheres yazidi foram as principais vítimas da ação ordinária deste grupo. Elas eram vistas como simples objetos, que poderiam ser usadas e abusadas, violadas e subjulgadas incessantemente, como se simplesmente, não fossem nada. A cada relato de seus abusos e violências sofridos, Nadia nos apresenta a pior faceta do ser humano e demonstra, que mesmo nos dias atuais, como tais ações são utilizadas enquanto táticas de guerra (e opressão).
Até aqui, só conhecia um pouco sobre o que era e como agia o Estado Islâmico, mas todo processo, no conforto do meu lar e salvaguardada pelos meus entes queridos. Ao me deparar com tal livro, percebi como é preciso abrir nossos olhares para além do que está no nosso cotidiano, uma vez que milhões e milhões de pessoas seguem sofrendo, sendo vítimas, de grupos e políticos que os condenam, ameaçam e violam, por sua identidade, por serem quem são ou pelo simples fato, do local onde moram.
Apesar dos gatilhos, acredito que seja essa uma leitura imprescindível e necessária para todos. É preciso expandir nossos conhecimentos, entender o que se passa com as outras pessoas e buscar nos juntar à essas vozes, com intuito de alcançar justiça e paz para esses que tanto sofrem.