Bruna Fernández 16/09/2011Resenha para www.LivrosEmSerie.com.brSempre que via Túneis nas prateleiras das livrarias, sentia uma vontade enorme de levar ele pra casa. Mas os livros que eu conhecia melhor acabavam sempre passando à frente e nunca dei a devida oportunidade para esse livro, acho que principalmente pelo fato de nunca ter recebido nenhuma indicação de conhecidos sobre ele e, nem ao menos ver o nome do livro correr pelos blog literários da vida. Eis que enfim recebi o livro em casa para resenha e, ainda com um pouco de relutância pela falta de indicações, iniciei a minha leitura. Demorou um pouco, mas acabei me interessando demais pela história e “me joguei” no enredo do livro junto aos personagens.
Túneis, o primeiro livro da série, apresenta a nós leitores a estranha família de Will Burrows, um garoto solitário, vítima do bullying entre os colegas da escola por ser albino. Esse detalhe chamou muito a minha atenção no livro, pois geralmente os heróis são excluídos de algum forma na literatura – ou são órfãos, ou tímidos, ou criaturas sobrenaturais e etc. – mas essa foi uma das primeiras vezes em que a característica diferencial do personagem principal é trabalhada com naturalidade. É algo que faz parte da personagem e isso não a incomoda, nem a faz pensar menos de si mesma, em momento algum, tanto que esse fato é somente mencionado nas primeiras páginas do livro.
Will tem uma irmã, Rebecca, que é o pilar central da casa. Extremamente organizada a irmã assume o papel de mãe, arrumando a casa, lavando as roupas, fazendo compras e cozinhando, além de cumprir com os seus estudos. A mãe de Will é viciada em programas de TV e em poucos momentos ela aparece sem estar sentada na frente do aparelho, assistindo aos seus programas favoritose completamente alheia ao que acontece ao seu redor. Já o Dr. Burrows é um arqueólogo extremamente inteligente que trabalha “temporariamente” em um museu e que compartilha com o filho Will a paixão por escavações. O Dr. também é obcecado por fazer parte de grandes descobertas científicas.
Um dia, o Dr. Burrows desaparece misteriosamente por um túnel que seu filho Will não conhecia. Intrigado, o garoto começa a cavar, literalmente, a verdade por trás do sumiço do pai com a ajuda de seu melhor (e único até então) amigo, Chester. Os amigos acabam descobrindo uma civilização "esquecida" debaixo da Crosta e a partir daí, começa a se desenrolar a grande aventura subterrânea de Will e Chester. O livro é extremamente descritivo, e a história demora um pouco para engrenar, o que pode desanimar alguns leitores, fazendo-os desistir do livro. Porém, se você gosta de aventuras, adora tentar desvendar mistérios e ler sobre o desconhecido, vale - e muito! - a pena investir nessa saga. Os preços dos livros são um tanto salgados, mas sempre tem um pessoal disposto a trocar livros no Skoob e também dá pra recorrer aos sebos pra conseguir exemplares mais em conta, então pesquisem!
Uma vez debaixo da terra, na busca pelo seu pai, Will acaba passando por maus bocados nas mãos dos Styx, um grupo cruel que domina todo o subterrâneo. Porém ele encontra também pessoas boas, que o acolhem e acaba descobrindo verdades reveladoras sobre o seu passado. As personagens mais cativantes que ele encontra por lá são Cal e Tam, mas fica complicado discorrer mais sobre eles sem revelar spoilers do enredo todo, então fica por conta de vocês.
Eu gostei muito da temática do livro de civilizações subterrâneas, é engraçado pensar na possibilidade de existir um mundo inteiro debaixo de nossos pés. A abordagem é bem diferente do que temos nos lançamentos da literatura infanto-juvenil ultimamente e por isso o livro se destacou no meu conceito. Pelo fato do enredo se passar em média de 70% do tempo com as personagens debaixo do solo terrestre, algumas passagens são - literalmente - sufocantes. Houve horas na leitura em que eu era capaz de sentir o cheiro de terra, de bolor, e sofria de claustrofobia ao acompanhar Will pelos túneis da Colônia e da Cidade Eterna.
O único ponto negativo do livro são os excessos de descrições. Entendo perfeitamente que os autores tentam detalhar o máximo possível para que possamos imaginar esse mundo subterrâneo e nos ambientar na história, mas eu não sou muito fã de descrições longas e detalhadas. O ritmo do enredo não é acelerado, mas ao contrário do que parece isso não torna a leitura monótona. O fato dos capítulos não serem tão longos e sempre adicionarem uma pitada de suspense no final de cada um deles, ajuda a manter a curiosidade do leitor. O enredo dos autores surpreende e toma rumos inesperados e alguns personagens nos deixam boquiabertos - em todos os sentidos (bons e ruins) possíveis.
Deixo aqui um alerta. Túneis é daqueles tipos de livros que tem uma resolução final, mas deixa muitas pontas abertas e ideias sem resolução, que - acredito eu - devem ser desenvolvidas em sua continuação: Profundezas, já lançado aqui no Brasil. O primeiro volume da série vai virar filme e o projeto está em desenvolvimento.