Lucas 30/12/2023
A liberdade é como o sol
Gigante. É como eu me sinto agora, encarando o teto e as teclas do celular enquanto escrevo isso depois de concluir a leitura. Inúmeras passagens do livro estão marcadas no meu peito e na minha cabeça, fico pensando sobre esses trechos o tempo inteiro, sobre o quanto dizem a respeito de nós, dessa sociedade miserável, que tanto falhou e continua falhando com as crianças de ontem e hoje, especificamente as pretas e pobres. Ler Capitães da Areia sempre foi uma meta minha, que queria ter concluído antes e já ter esse livro andando comigo a tempos, talvez muita coisa tivesse sido menos solitária se eu já conhecesse esse livro do jeito que conheço agora - porque essa é a sensação, que me tornei íntimo, dos personagens, dos cenários, das canções, das histórias, do nordeste ancestral, que também é pai e mãe, avô e avó de quase todo pobre periférico daqui do sudeste. Conhecer o nordeste e especificamente a Bahia é um sonho que vai esperar, mas sinto que Capitães da Areia de alguma forma me fez realizar essa viagem um pouquinho, em suas passagens mais aquecedoras e brilhantes - a cena do carrossel foi a primeira a me fazer sentir, repito, gigante - e também nas suas cenas mais cotidianas.
A dor de acompanhar a trajetória de cada menino e menina também se fez presente, pensando muito nos rostos que passaram pela minha vida e que também tiveram seus destinos interrompidos ou dificultados pelo contexto em que vivemos, e a nitidez da escrita de Jorge Amado fez com que a acidez de cada experiência manchada pelo sofrimento me atingisse em cheio, especificamente nos capítulos finais, não só pelos acontecimentos mas porque tudo o que tem gosto de despedida faz minha boca amargar - a sensação de que haviam poucas páginas restando, de que aquelas vidas estavam se esgotando, de que assim como fora do livro nossas histórias se separam e tomam rumos inimagináveis, trágicos e espetaculares, fatais e eternos. Mas essa sensação que mora em mim agora, essa grandiosidade da luta, da resistência, do poder de mudar a vida de outras crianças - a missão de Pedro Bala, que também sempre foi a missão dos grevistas, lutando por um mundo melhor não só para si mesmos mas também para seus filhos e os filhos dos seus filhos - é como um suspiro que vem antes de você se levantar e continuar o que tava fazendo, é aquela sensação de bateria recarregada, de reerguer um corpo abatido pelo cansaço e colocá-lo de volta de pé.
Por todas as vivências malditas. Não é o ódio e muito menos a bondade. É a luta!