O Auto da Barca do Inferno (1516) foi escrito na época dos grandes descobrimentos e da Reforma Luterana, quando a Europa passava pelas transformações que definiriam o perfil de sua cultura para os próximos séculos. Entre outras mudanças importantes, o velho continente perdia a unidade católica e enfrentava o início da divisão de credos. Por meio desse auto, Gil Vicente oferece uma resposta católica a questões importantes do debate cultural de seu tempo.
O dramaturgo encena as convicções da Igreja de Roma, compondo uma alegoria sobre o destino da alma, que deverá receber na eternidade a recompensa ou a punição por seu estágio na terra. Para representar o acerto de contas do homem com a ética da Igreja, o dramaturgo imagina um grande julgamento após a morte, em que os justos recebem a glória; e os injustos, a punição. Assim, em diálogo ágil e insinuante, o Diabo fustiga o nobre prepotente, o padre lascivo, o sapateiro desonesto e o magistrado corrupto, entre outros. Em contrapartida, os Cruzados, que deram a vida pela fé católica, são recebidos no céu. Embora austero em sua defesa dos princípios da Igreja, Gil Vicente adota o humor e a ironia como forma de criticar os vícios e exaltar as virtudes, fazendo-o com grande senso poético.
Religião e Espiritualidade / Literatura Estrangeira / Poemas, poesias / Ficção / Humor, Comédia / Drama / HQ, comics, mangá