"O que eu quero? A resposta para essa pergunta não existe. "
Garotas de Vidro mostra os dois lados dos distúrbios alimentares: a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Do ponto de vista da personagem Lia, adentramos seu mundo, dividimos sua dor, sua raiva e sua fome. Lia sofre de anorexia, ela vê a comida como um inimigo que quer poluir seu corpo, ela quer pesar cada vez menos 45, 40, 35... 0 quilos. É absurdo. Já sua amiga Cassie sofria de bulimia, ela comia descontroladamente, depois colocava tudo para fora. Essas duas garotas eram melhores amigas até em sua doença, um dia Lia recebe a notícia:
...corpo encontrado em um quarto de motel, sozinho...
Agora ela deve lidar com a própria doença, sua família e a morte de Cassie.
Laurie Halse Anderson com sua poderosa escrita poética mostra o doloroso mundo das garotas que sofrem de distúrbios alimentares, de forma madura e direta ela criou uma personagem doente que em meio aos seus delírios pede ajuda, muitas vezes inconscientemente. Anderson mostra o papel da família no tratamento e recuperação de quem sofre desta doença e o que se passa na cabeça de quem convive com isso.
Garota morta passando os garotos dizem nos corredores.
Conta para a gente o seu segredo as garotas sussurram, de um banheiro para o outro.
Eu sou essa garota.
Eu sou o espaço entre as minhas coxas, com a luz do dia brilhando por ali.
Eu sou o circo de aberrações envolto em cera de abelha.
Eu sou os ossos que elas querem, em uma moldura de porcelana.
Foi uma leitura difícil, pois sempre fui obcecada com meu peso, não que eu já tenha almejado ser uma pena, ou eu já tenha sido gorda, mas sempre que a balança apontava 60 quilos eu corria pra retomar meus 55. De qualquer forma, aprendi que não se consegue emagrecer, com saúde, sentada no sofá, então eu prático exercícios sempre, assim consigo manter minha boa forma, e por justamente ser xiita com a balança fiquei chocada com as coisas pelas quais a personagem passou, como ela enxergava o mundo, as pessoas, e como a doença estava fazendo a cabeça dela, deixando-a exausta, mostrando no espelho uma imagem distorcida de si mesma, e como a balança era sua inimiga, e amiga em algumas ocasiões.
Garotas de Vidro mostra o olhar inconsequente e pouco racional de quem sofre da doença, e deixa uma grande reflexão: "por quê?"
As vezes você deve se perguntar "por quê?", "por que eu não sou feliz?", "por que eu quero emagrecer?", "por que minha vida tomou esse rumo?", as vezes perguntar o por que das coisas é a coisa mais racional a se fazer. Não saber a resposta é estar perdido.
Garotas de Vidro é forte, te faz sofrer, te faz entrar em desespero, e chega a ser doloroso, mas é uma ótima leitura para quem quer trabalhar a empatia, se colocar no lugar do outro, sem julgamentos, sem preconceitos. Foi uma ótima jornada pelo mundo das garotas de vidro.
Indico!
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