Eu O Supremo

Eu O Supremo Augusto Roa Bastos


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Eu O Supremo





Este livro é um monumento, marco cravado no coração da América Latina. Mais do que isto, instaura um país: o Paraguai – uma das primeiras nações latino-americanas a tornar-se politicamente independente e a primeira a tentar a independência econômica – renasce íntegro nestas páginas de Eu O Supremo. Incrível façanha literária: o autor, Roa Bastos, consegue, através da palavra, penetrar na pele e alma do ditador José Gaspar Francia para autobiografá-lo.
Todavia, dizer que Eu O Supremo constitui "apenas" a autobiografia do ditador supremo do Paraguai na primeira metade do século XIX seria diminuí-lo pelo enquadramento. Como nota o crítico Angel Rama, este livro é inclassificável. Contudo, pode ser ao mesmo tempo: 1 – História, 2 – romance, 3 – ensaio sociológico, 4 – filosofia moral, 5 – biografia romanceada, 6 – panfleto revolucionário, 7 – documento justificativo, 8 – poema em prosa, 9 – debate sobre os limites da literatura e 10 – questionamento do sistema verbal. Pois Eu O Supremo é tudo isto mas, sobretudo, um testemunho definitivo sobre a original cultura de nossa América.
O personagem José Gaspar Francia é simplesmente fantástico e real. Sua presença no centro deste continente teve tal força que chegou a chamar a atenção do historiador inglês Thomas Carlyle. Ao invés de morrer, encantou-se. E parece ter reaparecido diante do escritor emigrado – 30 anos de exílio – Augusto Roa Bastos, em Buenos Aires, que serve neste final de século XX de "fiel de feitos". Aliás, Roa Bastos recusa o rótulo de romancista, preferindo o de compilador, argumentando que este livro foi lido antes de ser escrito.
Dada a complexidade desta obra, torna-se difícil destacar um entre os inumeráveis aspectos importantes de Eu O Supremo. Mas não resta dúvida que o livro de Roa Bastos se insere na linha da recente produção da literatura latino-americana que procura enfocar, e refletir sobre, o exercício do poder. Tem laços de parentesco com O Senhor Presidente de Angel Asturias, com O Outono do Patriarca de García Marquez, com Recurso del Método de Alejo Carpentier, mas, sem dúvida, é superior a todos eles.
O Dr. Francia (filho de brasileiro?), um leitor de Rosseau e Montesquieu, não é um ditador comum e está longe da caricatura do ditador latino-americano. É um doutor, um homem de ação, um parteiro de nação, iluminado pelo iluminismo. Totalmente dedicado ao projeto de fazer o Paraguai uma nação independente, acaba transfigurando-se ele próprio em Poder Absoluto. As circulares perpétuas – ele as pretendia circulando perpetuamente – que dita ao secretário e "fiel de feitos" Patiño são documentos políticos que Roa Bastos resgata literariamente para a reflexão de todo o continente.
Para o publico brasileiro talvez a leitura de Eu O Supremo apresente algumas dificuldades. A mistura de História com estórias pode confundir, principalmente pela ausência de informações sobre os entreveros na Bacia do Prata no começo do século passado. Mas é preciso notar que esta complexidade de Eu O Supremo é a mesma de um Grande Sertão: Veredas (Roa Bastos reverencialmente tira o chapéu para o mestre Guimarães Rosa, citando seu conto "A Terceira Margem do Rio") e a de um Ulisses (Joyce e os limites da palavra). A recompensa da leitura seguramente será a mesma destes marcos da literatura mundial.

Galeno de Freitas

Romance

Edições (3)

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O Recurso do Método
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Resenhas para Eu O Supremo (1)

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Eu O Supremo
on 28/3/21


Sobre o ditador paraguaio José Gaspar Rodrígues de Francia, o livro traz referências históricas e culturais. Escolhi esse livro para minha meta de leitura para 2021, que é ler um livro de cada país do continente americano. Foi a escolha para o Paraguai.... leia mais

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