Romance histórico da autoria de Alexandre Herculano, publicado em fragmentos nas revistas O Panorama e Revista Universal Lisbonense, editado em volume em 1844. [Edição brasileira autorizada pela Livraria Bertrand de Lisboa: prefácio de Vitorino Nemésio, apêndices e notas de Maria Helena Lucas; vocabulário arabizado contido no livro pelo Prof. David Lopes. Cronologia do Reino Visigótico e glossário de nomes germânicos e outros toponímicos fornecido pela Enciclopédia Espasa-Calpe]. Tomando como cenário a época de dissolução moral e política do fim da monarquia visigótica na Península Ibérica, o autor aborda o problema ético-religioso do celibato, através da personagem central de Eurico — antigo gardingo na côrte do Rei Wítiza em Toledo — tornado presbítero da pobre paróquia de Cartéia por causa do amor impossível por Hermengarda (a nobre irmã de Pelágio/Pelayo), autor de hinos inspirados por Deus e pela Pátria. Quando a sua pátria e a sua religião se veem ameaçadas, Eurico repõe as vestes de guerreiro e transforma-se no Cavaleiro Negro, combatendo heroicamente os Sarracenos árabes e mouros. No fim, tendo reencontrado Hermengarda, mas ciente de que o seu amor é sacrílego, vai procurar a morte na batalha contra os invasores, enquanto a sua amada enlouquece entoando os versos do presbítero... Na figura extraordinária e original do protagonista, na expressão do pessimismo social, na idealização da mulher e da natureza. Na exaltação amorosa e patriótica, no ascetismo profético, a obra espelha bem a idiossincrasia romântica do seu autor. Eurico, o Presbítero, que o próprio Herculano considerou uma "crónica-poema, lenda ou o que quer que seja", apresenta-se eivada mais de efabulação poética do que propriamente romanesca, constituindo, assim, uma obra única do Romantismo português. |...| "O Monasticon é uma intuição quase profética do passado, às vezes intuição mais dificultosa que a do futuro. O período visigótico [na antiga Hispânia] deve ser para nós como os tempos homéricos na Península Ibérica -- eras que nas recordações da 'Espanha' tenho por análogas aos tempos heróicos da Grécia [impressão de majestade 'escultural' que conserva sempre a raça visigótica no seu calado sepulcro]. Nos cantos do presbítero tentei achar o pensamento e a côr que convêm a semelhante assunto, e em que cumpre predominem o estilo e formas da Bíblia e dos Eddas, as tradições cristãs e as tradições góticas que, partindo do Oriente e do Norte, vieram encontrar-se e completar-se, em relação à poesia da vida humana, no extremo Ocidente da Europa". Herculano imaginou a ação numa época de transição histórica, aplicando distintas formas literárias às diversas épocas: da Hispânia romano-gótica ao nascimento das sociedades modernas da Península, no terrível cadinho da conquista árabe. No plano da obra,'O Monge de Cister ou A Época de D. João I' — (O Monasticon, #2: Tomo II) deve seguir-se a 'Eurico'. [Prólogo e notas do autor, Ajuda -- Novembro de 1843].
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance