No livro O QUE É TORTURA - volume de bolso da coleção "Primeiros Passos", que a editora Brasiliense publicava na década de 1980 -, escrevi que: "Quanto à sua VONTADE, ficou claro que a tortura só existe se contrariá-la. Por isso não faz muito sentido o emprego de termos nebulosos como 'desumano', 'vexame' ou 'humilhante'. Dá para imaginar que qualquer queimadura seria tortura, porque dificilmente alguém gostaria de ser queimado. Mas dizer que insultos ou genuflexões sejam 'degradação' (e portanto necessariamente 'tortura') já é forçação de barra, uma vez que a noção de humilhação é tão subjetiva e relativa como várias outras formas da dita tortura psicológica. Para um muçulmano pode ser tortura ter de ajoelhar perante uma cruz e beijá-la, mas não para um cristão. Para um católico japonês era um suplício ter que abjurar pondo a sola sobre o rosto de Jesus num 'fumie' (prancha de madeira), o que para um xintoísta seria indiferente. Sendo fetichista ou podólatra, você não vai se magoar se tiver que lamber uns coturnos ou servir de capacho. Enfim, se for masoquista, o estupro lhe seria um bálsamo."
Não-ficção