A Invenção da Solteirona

A Invenção da Solteirona Cláudia Maia


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A Invenção da Solteirona


Conjugalidade Moderna e Terror Moral




Esta tese discutiu a emergência do celibato feminino estigmatizado e da solteirona no Brasil através da análise de discursos científico e literário veiculados em Minas Gerais no período de 1890 a 1948. Os suportes teóricometodológicos foram construídos a partir da epistemologia feminista, da nova história cultural e de algumas contribuições de Michel de Foucault. Com a constituição do Estado Republicano, o Brasil procurou implantar um projeto de progresso e emancipação da sociedade fundamentado nos princípios da modernidade, que reforçavam o valor das liberdades individuais e do direito universal. A família conjugal, legalmente constituída pelo matrimônio burguês, ganhou centralidade neste projeto. Ela foi percebida como lugar estratégico para instituir o controle e a disciplina na vida cotidiana, a sexualidade reprodutiva e para a produção de modelos de homens e mulheres marcados pelas diferenças de gênero. As celibatárias emergiram como figuras marginais quando esse modelo de família tornou-se central. A solteirona foi a chave para perceber processos de subjetivação feminina e a constituição de um dispositivo de controle e coerção sobre as mulheres na modernidade brasileira, para assegurar a família, a conjugalidade moderna e a sexualidade reprodutiva. Os mecanismos de controle se engendraram, sobretudo, por meio do casamento legítimo, por isso, fora do casamento as celibatárias poderiam experimentar uma vida mais autônoma, constituir-se em indivíduos jurídicos e aderir, sem impedimentos legais, ao mercado de trabalho. Os mecanismos de coerção foram acionados para convencer as mulheres a se tornarem esposas, pois nesta condição elas poderiam ser mais facilmente controladas. Duas estratégias discursivas foram usadas. Uma foi a produção da idéia de que o casamento, além de uma vocação inata, trazia privilégios às mulheres; a outra foi a invenção da solteirona invejosa e frustrada, a figura da diferença, uma personalidade doentia. Com o discurso científico-moral, ela ganhou corpo e se apresentou como uma anomalia e marca dos fracassos femininos. Por isso, era um fantasma que aterrorizava as mulheres e as coagia ao casamento. Ao não se casar, rejeitando os papéis de mãe e esposa, muitas celibatárias, porém, criaram condições de possibilidades para exceder seu assujeitamento como mãe/esposa/dona-de-casa. O celibato feminino, neste contexto, foi ser pensado como um dos múltiplos pontos de resistência aos modelos idealizados de família, de casamento, de sexualidade e de mulher.


Narrativa fluente, sensibilidade, maturidade intelectual, originalidade, erudição, excelente e incessante fundamentação teórica, riqueza bibliográfica, nacional e internacional, riqueza de fontes, revelando sagacidade em termos de extrair informações das mesmas é o que revela Claudia neste trabalho.
Rachel Sohiet (UFF)

Neste livro percebe-se que os saberes empenhados na caracterização da solteirona exercem a tarefa de convencimento e de assujeitamento das mulheres à heterossexualidade compulsória, ameaçando-as com a exclusão, a anormalidade, a feiúra, a desgraça social.
Tania Navarro-Swain (UnB)

História do Brasil

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O preço de uma escolha e seus méritos......
on 29/5/12


Reconheço e recomendo a obra “A Invenção da Solteirona – Conjugalidade Moderna e Terror Moral” para o leitor do meio acadêmico da área de humanas e para os leitores interessados em um estudo mais aprofundado sobre a vida da mulher brasileira diante da modernização e seus reflexos na escolha do estado civil. Em Minas Gerais, período de 1890 a 1948, foi o local e época de escolha da autora Cláudia Maia para desenvolver suas pesquisas. Na condição de leitora interessada em conhecer de fo... leia mais

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Adriana Scarpin
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