Promovendo uma inversão no título clássico de Hesíodo, Os trabalhos e os dias, poema épico composto entre o final do século VIII e o começo do século VII a.c., Proust publicou, em 1896, Os prazeres e os dias, uma reunião de contos e poemas de juventude. Outra é a inversão operada no belo título deste livro de Alejandra Pizarnik, Os trabalhos e as noites. É possível que não haja melhor título para um livro de poemas de Pizarnik, ou, talvez, para qualquer livro de poemas. Como indica o verso de Emily Dickinson, Good morning, Midnight!, o poeta é trabalhador da noite; seu labor é noturno, prefere o silêncio e a sombra. Noite, silêncio, sombra são palavras-chave no vocabulário da poesia de Pizarnik. Trata-se, aliás, de um vocabulário bastante restrito; os poemas de Pizarnik giram em torno de um catálogo limitado de palavras e imagens: pássaro, cinza, pedra, noite, alba, infância, vento, chuva, sombra, silêncio, lilás… A partir de uma série reduzidíssima de elementos, Pizarnik compõe, como num jogo combinatório, seus poemas quase sempre muito breves, extremamente depurados, de uma terrível limpidez.
Trecho da apresentação de Ana Martins Marques
Literatura Estrangeira / Poemas, poesias