Em seu livro de estreia na poesia, a escritora e cordelista Jarid Arraes dedica seus poemas àqueles que não encontram matilha. Àqueles que procuram um buraco para chamar de seu — talvez toca, talvez a cova íntima que nem sempre encontramos quando precisamos de abrigo. Nas quatro partes do livro — Selvageria, Fera, Corpo aberto e Caverna — Jarid cava fundo, com unhas e presas, em busca desse lugar. Revira lembranças de sua infância no Cariri, cercada da intolerância e do machismo, mas também cercada da poesia dos homens que inspiraram seu pai e seu avô, ambos cordelistas, e a despertaram para o universo literário.
O que sempre faltou nessa época foi a voz da mulher, que ela se encarregou de resgatar em seus dois primeiros livros, As lendas de Dandara e Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis. Descobrir-se mulher e depois negra intensificou essa busca, levando Jarid a mergulhar na política de classe, de raça e de gênero em seus cordéis que subvertem a tradição nordestina. Em Um buraco com meu nome — que também inaugura o selo literário Ferina, voltado à descoberta de autoras brasileiras — a política ganha contornos líricos, mas continua presente em cada verso.
Literatura Brasileira / Poemas, poesias