É uma obra aberta, de múltiplas leituras e interpretações. Pode ser vista como a história do assassinato do líder revolucionário por Corday, em meio à efervescência política da fase imediatamente posterior à Revolução Francesa, representada pelos loucos de Charenton, sob a direção de Sade e sob os auspícios do diretor da instituição. Mas, pode ser vista também como a vida social e política de um país (Charenton), onde se defrontam propostas diversas: liberal (Sade), conservadora (Coulmier), reacionária (Duperret), revolucionária (Marat), extremista (Roux) e imobilista (Corday). E onde tudo vai bem desde que não fira as vontades das forças dominantes (o imperador Napoleão), invocadas pelo “presidente” Coulmier para a manutenção da ordem interna, para o que conta sempre com enfermeiros e irmãs de caridade. Sob esse ponto de vista, as indicações de Weiss quanto aos intérpretes dos papéis são bastante esclarecedoras. Quem mais além de Sade poderia responsabilizar-se pela direção da peça com a confiança do senhor Coulmier? Quem melhor para representar Marat do que um paranóico, cuja enfermidade propicia tanto momentos de grande violência como de grande lucidez? Corday poderia ser outra senão uma sonâmbula catatônica, desligada de tudo o que realmente ocorre à sua volta? Duperret só poderia ser um erotômano, cuja repressão moral e sexual só tem como saída a loucura. Roux, por sua vez, só seria bem representado por um louco furioso, em camisa de força para evitar atos desatinados.
Ficção