"Primeiro é preciso devolver as bofetadas, e só numa segunda etapa, as esmolas. Lembrar do mal antes do bem. Lembrar de todo o bem recebido por cem anos, e de todo o mal, por duzentos. Nisso eu me diferencio de todos os humanistas russos dos séculos XIX e XX", escreve Chalámov no conto A luva, que dá título ao sexto e último volume dos contos. De fato, os 21 textos aqui reunidos trazem, além da denúncia dos horrores do gulag, também um pouco de leveza e esperança, já que cobrem os últimos anos de sua pena e a transição para a liberdade, como no belíssimo conto Viagem a Ola.
Fiel até o fim ao seu projeto de sobreviver para contar o que testemunhou em sua "temporada no inferno" nos campos de trabalhos forçados stalinistas, onde passou dezessete anos, Varlam Chalámov (1907-1982) criou, nas mais de 2 mil páginas dos Contos de Kolimá, um verdadeiro monumento contra a barbárie e pela vida, sendo por isso considerado um dos maiores escritores do século XX.
Completam o volume um conto sobre a morte de Chalámov escrito por Gustaw Herling - autor de uma das mais importantes obras da literatura do gulag, Um mundo à parte -, e dois poemas do próprio Chalámov traduzidos diretamente do russo.
Contos / Literatura Estrangeira