Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor: Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora.
O que primeiro chama a atenção na leitura de Morangos mofados é a fineza de estilo, a inteligência e a percepção de Caio Fernando Abreu para tratar do que há de mais profundo no ser humano. A busca, a dor, o fracasso, o encontro, o amor e a esperança vão se delineando nesta série de contos que se entrelaçam quase como se fossem um romance.
O medo e a insegurança dominam os nove contos que compõem a primeira parte do livro, O mofo, na qual está representada a vida sob a ditadura militar e a restrição de liberdade. Na segunda parte, Os morangos, vemos uma saída para os traumas impostos pela sociedade. Na última, composta de um único conto, que dá nome ao livro, Caio sinaliza uma esperança: os morangos estão mofados, mas ainda assim guardam o frescor em sua essência.
Numa carta a um amigo, que pode ser lida no final deste volume, Caio conta o processo de criação do livro e o mergulho sofrido e necessário no mundo interior para dele extrair a literatura. Então, esclarece por que o último conto tem um cunho positivo: o personagem se rebelou, libertando-se do autor e decidindo o final à revelia dele.
Lançado originalmente em 1982, Morangos mofados foi um dos maiores sucessos editoriais da época e até hoje é um dos livros preferidos pelos fãs de Caio Fernando Abreu.
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