"Por que você não sai da favela?"
Era essa a pergunta que o fotógrafo Maurício Hora mais ouviu dos amigos e vizinhos moradores do Morro da Providência e dos amigos do asfalto. A graphic novel, O Morro da Favela, escrita e desenhada por André Diniz, conta a vida de Maurício e tenta dar esta respostas aos amigos do biografado.
Durante a busca por sua identidade, Maurício pesquisou a história da sua comunidade e descobriu que a suas raízes estavam cravadas na primeira favela brasileira, o Morro da Providência antes era chamado de Morro da Favela. Com o tempo o termo passou a designar todo agrupamento urbano desordenado.
No livro, André Diniz usa o contraste seco do desenho em preto e o branco para mostrar os tons de cinza da cotidiano de Maurício, sua relação com vida e a morte, com a polícia e os bandidos, com a prisão e a liberdade e o morro e o asfalto. Conta como Maurício tornou-se o primeiro fotógrafo a clicar um morro carioca durante a noite. Expõe a relação dele com o pai, um contraventor que tornou-se o primeiro traficante a criar uma boca de fumo no morro. Por fim, abre as portas de sua casa para que o leitor conheça toda a sua família.
"Não saio porque não quero. Aqui estão meus amigos, aqui me sinto seguro. Não vejo nada de diferente lá embaixo. Então onde é melhor estar? Quem disse que favelado é roceiro, bagunceiro e ladrão? Quem disse? Sou um fotógrafo favelado" – diz ele com orgulho da sua trajetória.
O Morro da Favela é uma narrativa importante e necessária para se entender o dia-a-dia das favelas cariocas pelo ponto de vista de um homem comum, que buscou na fotografia sua identidade e acabou fazendo um registro que tornou-se histórico.
Nas palavras de Marcus Vinicius Faustini, "as belas memórias em preto e branco, que acompanhamos nestas páginas, produzem combinações temáticas instigantes. Gosto de pensar que estamos diante de um novo campo de possibilidades narrativas que podem contribuir na radicalização da democracia no país."