Enquanto o Sudeste do Brasil florescia com o suor dos escravos a molhar os campos de café, no Nordeste, os cultivos de algodão pintavam de branco seu chão alaranjado. A escravidão não era rentável quando a chuva nem sempre bastava para garantir a lavoura, e foi a peculiaridade do cultivo que chamou a atenção de William Gordon, o marquês de Huntly, para a província do Siará.
Maria Sousa era como muitos dos filhos daquele novo império. Uma mistura de colônia e metrópole que se fazia ver pelos cabelos retos e a pele avermelhada herdada da mãe índia, enquanto os olhos claros e as vestes elegantes eram presentes do pai, um comerciante português. Ela tinha no Siará de clima quente e sol constante o lar que a amenidade do clima do velho continente não conseguiu lhe dar.
E se no chão seco, sob as bênçãos do sol escaldante, florescesse mais do que o algodão? Um desejo sem muito jeito de esconder-se enquanto desabrochava? E se, aos poucos, esse desejo virasse amor?
Era o que o marquês descobriria, ao tocar o algodão da pele de Maria.