Descendente de uma longa linhagem de párocos galeses, Arthur Machen (1863 – 1947) teve uma criação típica para um homem de sua época. Estudou grego e latim, o que possibilitou sua incursão na leitura dos clássicos em sua língua original, onde posteriormente foi buscar inspiração para suas criações. Teve uma origem humilde apesar de sua educação, e viveu por muitos anos em Londres, em relativa pobreza, tentando conseguir emplacar a carreira de jornalista. Nessa mesma época, começou a traduzir do Francês, e seus trabalhos com o Heptameron e os contos de François Béroalde lhe conferiram alguma fama.
O primeiro título que publicou com algum sucesso, dentro do mundo da ficção e do horror, foi O grande Deus pã (1894), este, lhe rendendo uma relativa fama à época. A história, apesar de tida como um ultraje aos modos e bons costumes, foi também elogiada como uma peça inventiva e cruel.
Os contos que aqui trazemos tem como tema principal, a especulação da existência de raças antigas e mágicas, muito mais velhas que a própria raça-humana. São contos sombrios, cheios de mistérios e segredos apócrifos escondidos em histórias adulteradas e símbolos estranhos. O Povo Branco gira em torno de uma jovenzinha que diz enxergar coisas que as pessoas comuns não podem ver. Ela questiona se não seria verdade tudo aquilo que sua avó e sua aia lhe contam, seja em forma de inocentes canções, ou de contos-de-fada… A verdade se aproxima de forma sucinta, e sua incursão e experiências nesse mundo novo e assombroso é narrada em forma de diário.
Em O Selo Negro, um professor se depara com a descoberta de uma pedra negra marcada com estranhos símbolos; ele então mergulha em estudos especulativos, criando uma trama universal em torno da existência de seres antigos, mais velhos que a própria humanidade. A babá de seus filhos, uma jovem admiravelmente sagaz e ávida leitora de clássicos latinos, narra a história, participando dela ativamente com suas descobertas e sugestões. A contratação de um novo criado, um rapaz aparentemente ignorante, leva a narrativa para rumos inacreditáveis e novas e cruéis descobertas.
Machen é um esteta do horror, um descendente da antiga raça dos povos celtas e saxões, e que muito bem soube sintetizar e modificar as lendas e os contos-de-fada que ouvia de seus parentes na pequena e afastada região de Usk, até que essas maravilhosas lendas se tornassem histórias terríveis e mirabolantes, de especulação e horror cósmico.
Tendo em mãos este volume, o leitor não encontrará dificuldades em descobrir a origem de algumas das criaturas mais aborrentas de Lovecraft.