cammealves 13/05/2024
Aquele para refletir cada página e mergulhar em êxtase
Terminei há pouco a leitura mais difícil que fiz esse ano. Difícil não pela escrita, que é bem fluida e prende com facilidade. Uma escrita detalhada e rica em reflexões e descrições, tanto do mundo visível quanto daquele que apenas ao coração e possível enxergar.
Mas é uma leitura difícil porque o autor não mediu esforços para narrar a decadência e depravação da humanidade.
Desde o princípio da narrativa o autor já deixa claro que a humanidade está em xeque; que o desenrolar da trama apenas revelará que aquilo que tememos se concretizará. Tudo acontece em câmera lenta, e é possível sentir na pele em arrepio os atos medonhos de que são capazes os seres humanos.
À parte as imundices óbvias que o autor já deixa à superfície, sua forma de narrar a história faz a imaginação se perder entre os personagens e sofrer com eles.
E, quando menos se espera, um riso nos encontra entre páginas com uma situação ou outra que o autor coloca que maneira tão sagaz. Na simplicidade do horror, nos faz rir.
Uma das características que mais gostei foi que o autor colocou a todos em pé de igualdade no momento primeiro da história, e que vai se mostrando persistente até o fim, não deu nome aos personagens, deu a eles títulos de identificação: ?o médico? ?o primeiro cego? ?o rapazinho estrábico? ?a rapariga dos óculos escuros? ?a mulher do médico?. O nome para eles deixou de ser importante, tanto que ao fim, sequer se prenderam a apresentações, já se conheciam.
Assim como a cidade, o estado, o país não são relevantes. Me fez pensar que pouco importa o lugar, estamos todos vivendo da mesma forma, deixando de ser humanos da mesma maneira.
Ainda farei uma resenha mais detalhada para mim, porque esse livro despertou reflexões demais e profundas demais para eu conseguir organizar em tão poucas linhas.
É aquele livro que, sem dúvida alguma, deve ser lido por todos e por todos discutido, debatido, dilacerado, virado de baixo à cima e de cima à baixo.
Me despertou reflexões sobre a humanidade e como precisamos compreender que não podemos mais viver nos desfazendo uns dos outros e da natureza como temos feito há tantos anos e sem qualquer previsão de mudar no futuro próximo.
A cegueira de que trata o livro, a estamos vivendo hoje, apesar de não estamos por aí todos a tatear as mãos à frente do rosto porque estamos mergulhados em um mar branco, estamos cegos para as coisas que realmente importam. Estamos cegos para os outros. Estamos cegos para as atrocidades que se fazem em nome de deuses, em nome de governos, em nome de si.