Pe. Jeferson 28/11/2022
Da tragédia à glória
As três peças talvez sejam as mais importantes tragédias gregas que chegaram até nós.
ÉDIPO REI
Uma visão um pouco mais superficial da obra vai nos falar da inevitabilidade do destino. Essa ideia pode levar a uma desconfiança dos deuses e, por conseguinte, de todo o “sobrenatural”, pois o homem seria apenas um fantoche em suas mãos; em última análise isso pode gerar um preconceito contra a religião em si mesma. Não acho que tenha sido a intenção mais profunda do autor; é verdade que os gregos tinham uma visão bastante determinista da vida, mas creio que podemos nos aprofundar muito mais que isso.
Sendo os deuses gregos e tudo o que os cerca, como oráculos, maldições, etc, representações dos mistérios da vida humana, Édipo passa a ser a figura do inocente sofredor, muito parecido ao Santo Patriarca Jó, da Bíblia.
A peça fala muito mais do sofrimento humano do que da vontade dos deuses. Édipo é levado a sofrimentos morais terríveis que geram sofrimentos físicos também terríveis. Esses sofrimentos servem para aperfeiçoar o próprio Édipo e tirá-lo do orgulho e do temperamento colérico. Mas aqui Édipo ainda é imaturo, ele se desespera ao perceber o mal cometido.
ÉDIPO EM COLONO
Aqui já é “outro” Édipo. Ele está muito mais maduro e sabendo lidar com sua condição. Podemos dizer que depois de tantos anos ele conseguiu “se perdoar” e se tornou mais sábio e menos impulsivo.
De certa forma essa peça é uma redenção de Édipo. Se na primeira peça ele termina em desespero, nesta, apesar de ainda ser uma tragédia, seu fim tem um ar misterioso, um ar divino, algo de glorioso. Embora esta peça não seja tão memorável quanto às outras duas da trilogia, é somente nela que vemos o crescimento do personagem.
No fim é uma peça esperançosa. Para nós cristãos é fácil ver aqui uma prefiguração do sofrimento redentor experimentado por tantos santos depois de Cristo.
ANTÍGONA
Se a peça anterior termina em glória para Édipo, sua família segue vivendo a tragédia.
Aqui Antígona também tem um salto no seu desenvolvimento psicológico. Ela deixa de ser a garota indefesa que conduzia seu velho pai pra ser a defensora dos direitos divinos sobre os homens. Embora trágica a vida de Antígona é, de certo modo, heroica.
Embora ela seja considerada por alguns como um ícone protofeminista, isso não se mostra verdadeiro; ela é uma campeã da tradição. Ela se levanta contra a tirania de Creonte que, numa típica atitude revolucionária, se julga no direito de legislar sobre normas divinas.
Nesse sentido, Antígona é também uma prefiguração pagã (apesar de seus pecados) de inúmeros santos que não temeram dar a vida para defender a lei divina.