Fabio_Ferraz 03/01/2021
A nova política quântica
Físicos e estatísticos sabem lidar com grandes volumes de dados provindos de experimentos e análises. Até o advento das redes sociais e outras plataformas e recursos na internet, praticamente não existiam dados disponíveis para análise, interpretação e mesmo manipulação das tendências e preferências das pessoas e grupos definidos. Com a difusão recente desses recursos os "engenheiros do caos" (estatísticos, físicos, etc) passaram a suportar campanhas eleitorais através dessas técnicas de análise de big-data.
Nesse livro curto e muito interessante, Giuliano Da Empoli analisa casos recentes de campanhas eleitorais, partidos políticos e populistas (como a campanha de Trump de 2016 e o Brexit p. ex.) que lograram sucesso ao recorrerem aos "engenheiros do caos" e adotar técnicas de análise e uso de dados de redes sociais, internet e outros pela inteligência artificial e aprendizado de máquina para capturar e estimular e manipular as tendências e extremismos das massas.
O uso intensivo do "big data" em campanhas eleitorais não é novidade, claro... Técnicas de análise e uso de dados via inteligência artificial e aprendizado de máquina foram usadas desde a campanha vitoriosa de Obama em 2008.
Em linhas gerais, os mesmos conceitos, técnicas e idéias foram adotados na vitória impressionante do movimento 5 Estrelas na Itália em 2013.
E foram turbinadas em 2016 na campanha de Trump ao usar dados privados de redes sociais, junto da (hoje inexistente) Cambridge Analitcs de Steve Banon.
Depois, na campanha Brexit que culminou na saída da Inglaterra da UE em 2016, a ponto de um articulador da campanha afirmar depois que caso a lider do sistema de inteligência artificial usado fosse "atropelada por ônibus" a Inglaterra ainda faria parte da UE hoje....
E aqui as ideias e experiências de Banon foram usadas na campanha vitoriosa de Bolsonaro em 2018. Campanha facilitada pelo fenômeno do "antiptismo" e anti-esquerda jà em marcha no país pelas mídias tradicionais, a campanha de Bolsonaro se apoiou em redes de robôs e disparo de fake-news em massa via whatsapp e outras vias.
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Agora, na campanha vitoriosa de Joe Biden nos EUA em 2020 (que não faz parte dos exemplos do livro) houveram algumas inovações ou melhorias no sistema, dentre elas:
(1) Análise de grandes volumes de dados comportamentais para avaliar o sentimento popular e a provável resposta dos eleitores a questões importantes, como imigração, saúde, crise econômica, pandemia e racismo...
(2) Com base nas análises dos dados, focou agressivamente em estados de batalha, como Arizona, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, com anúncios em vídeo direcionados, cujas respostas ou efeitos eram capturados "real time" e retroalimentavam revisões do material de campanha.
(3) Também com base nas análises de dados, a equipe de Joe Biden tabalhou intensivamente para melhorar sua presença online, incluindo o recrutamento de influenciadores nos mêses que antecederam sua vitória nas eleições dos EUA.
(4) A análise de dados via inteligência artificial permitiu que se gerencie, monitore e analise dados de forma autônoma para dirigir anúncios de streaming de canais de mídia social populares, como Facebook e Instagram. Ao rastrear as principais métricas em tempo real, como impressões e taxas de cliques para anúncios, as puderam otimizar seus gastos com publicidade e alcançar mais apoiadores online.
"How Joe Biden?s team leveraged data analytics in the US elections - CrunchMetrics"
https://www.crunchmetrics.ai/blog/how-joe-bidens-team-leveraged-data-analytics-in-the-us-elections/