gui 05/03/2022
8,5
Além dos capítulos, o livro é dividido em 3 partes. Li algumas resenhas considerando estranhas as mudanças bruscas de personalidade, provavelmente indo para a terceira; mas não considero que isso aconteça. Seu jeito de ser e reagir muda devido aos eventos importantes que ela mesma realiza e que mudam chaves na sua mente e alteram suas prioridades (além dos traumas sofridos). Afinal, ela não tinha mais nada a perder, e havia provado o quão bom podiam ser algumas coisas alternativas da vida.
A evolução de Tracy é inusitadamente natural, e essa é a graça: suas mudanças, criatividade, personalidade, e suas aventuras pelos lugares geográficos que, em êxito do escritor, são descritos de forma que me inseriram bem na agonia ou grande elegância que os lugares pediram.
Acredito que a principal falha do livro seja a memória de Tracy: a partir de um momento, por mais que ela não se importe ou queira esquecer, o passado dela é só ignorado e nem citado, sendo ele uma parte primordial da história, que acaba ficando meio desconectada.
? Spoilers ?
Com certeza o melhor do livro são os roubos: são criativos, emocionantes e nada repetitivos. A ganância realmente é o motor de todos eles, com golpes atrás de golpes, dinheiro sem fim. A partir de um momento da história, a própria Tracy sabe que não está mais na vida de golpista para ser uma "Robin Wood", mas sim porque é muito prazeroso passar a perna em quem se considera inteligente.
Suponho que é tanto por seus traumas como pela própria ganância de querer ser mais e mais sobre os outros, que ela não percebe as verdadeiras intenções de Jeff. A história dele é boa, criativa, interessante e também justifica seu amor por Tracy.
Por outro lado, Cooper, que na verdade se apresenta como um psicopata atrás de sua própria justiça louca vestida de obstinação, ocupa um papel que nos ajuda a assimilar um final que não há mocinhos. A reviravolta do último roubo não transmitiu a mesma emoção que os anteriores e serve para colocar Cooper na posição de perdedor, personagem esse que não senti conexão alguma. A ponta solta de Pierpont é um ótimo final.