Andreia Santana 25/12/2010
A juventude de uma diva antes do glamour
Os diários de Carrie é leitura para os fãs da série Sex and the city apenas se o objetivo for conhecer “as origens” da principal protagonista do sucesso literário que se tornou fenômeno na TV e, mais recentemente, no cinema. Voltada para um público mais adolescente, tanto que o lançamento no Brasil é da Galera, o selo jovem do Grupo Editorial Record, o livro carece daquela pegada de humor sarcástico que caracteriza a fase mais madura de Carrie Bradshaw e suas amigas Miranda, Samantha e Charlotte. Falta também o glamour nova-iorquino, até porque a história começa bem antes, no meio da adolescência da protagonista, em um vilarejo de Connecticut.
A Carrie adolescente, embora bastante inteligente para os padrões estereotipados dos jovens americanos na high School (ensino médio) - nerds espinhentos, líderes de torcida peitudas, jogadores de futebol sem cérebro e todo o time de maria-vai-com-as-outras -, não deixa de ter sua cota de ingenuidade irritante. Ao menos, para quem conheceu a personagem adulta, fashionista e colunista de prestígio em um jornal da “Big Apple”, fica difícil acreditar que na adolescência ela se julgava o típico patinho feio da escola.
As melhores amigas de Carrie nos tempos de colégio não são as mesmas da fase adulta, quando ela se muda para Manhattan, mas há semelhanças. O foco principal da obra são as mudanças provenientes do amadurecimento. Lógico, ninguém depois dos 30 se parece com a época em que tinha 16 e o objetivo de Candace Bushnell, no caso de Carrie Bradshaw, é mostrar que as sementes da futura colunista foram plantadas naquela menina complexada e às voltas com o primeiro amor e as traições de ex-melhores amigas. É bonitinho, mas não convence tanto, porque a força da Carrie adulta fatalmente vai anular a titubeante adolescente do passado.
Embora mantenha um olhar crítico sobre os colegas, a própria família e principalmente o “infernal” universo escolar, Carrie é frágil, insegura e apaixonada demais, além de muito suscetível. Está mais para uma boa menina que confia em demasia nos outros do que para a mordaz escritora da fase adulta. A obra, só do meio para o final, é que vagamente começa a lembrar os contornos de Sex and the city.
Tudo bem que a intenção não é escrever outro Sex and the city em versão teen, do contrário a autora se repetiria e perderia pontos por falta de criatividade, mas a comparação é inevitável. Até porque, Candace, nas quase 400 páginas de Os diários..., se propõe a revelar ao mundo o “nascimento de uma futura estrela”, mas peca por não cumprir 100% da promessa.
Para não cair na tentação de esmiuçar um livro e acabar rejeitando totalmente o outro, a recomendação é separar as duas obras. Candace Bushnell inaugura um novo ciclo de romances cuja protagonista também se chama Carrie. Qualquer associação mais profunda com seu consagrado trabalho anterior pode resultar em decepção. Para os fãs mais radicais, vai faltar a coerência narrativa e a liga que uniria as duas pontas da vida da personagem.
Já quem não conhece Sex and the city – nem da série na TV e nem do livro que a originou –, terá com a leitura de Os diários de Carrie(/i> um bom – e até divertido em certos trechos - passatempo, mas no estilo High School Music, sem a cantoria, graças a deus!
Não deixa de ser uma forma de recordar as dúvidas, descobertas, amizades, intrigas e namoricos da época de adolescente. Guardadas as devidas proporções da diferença cultural entre norte-americanos e brasileiros, Candace Bushnell nos diz que no fundo, todos somos iguais e temos os mesmos anseios aos 16 anos. Será mesmo?