A Leitora Compulsiva 18/02/2023
Você não precisa de redes sociais
?Sou uma das poucas pessoas da minha geração que nunca teve uma conta de mídia social e não costumo passar muito tempo navegando na internet.?
E eu também.
Sinto que esse livro reafirmou muitas das convicções que eu mesma já tinha após ler 10 Argumentos Para Deletar Agora Suas Redes Sociais do Lanier.
Meu antagonismo com redes sociais não é novo; lá pelos meados de 2015, quando percebi que navegar inadvertidamente pelas redes me produzia grande insatisfação, eu tomei uma decisão drástica da qual até hoje não me arrependo:
Deletei todas as minhas redes sociais. Ponto.
A partir daí, nunca mais usei. A primeira semana foi difícil, verdade. Eu era simplesmente uma viciada em clicar, postar e atualizar o feed desesperadamente em busca de qualquer coisa ? qualquer coisa MESMO ? que me distraísse da vida real. Eu não queria contato com pessoas, eu queria apenas o escapismo que essas redes eram capazes de me proporcionar.
Levava horas de uma vida vazia em conversas imbecis online com pessoas que eu nunca nem vi na minha vida. E tudo a troco de quê? Nada. Eu só estava dando várias horas da minha vida pra um aplicativo ?inofensivo? que tinha o objetivo de me fazer ficar insistentemente na frente dele.
Essas horas seriam muito mais produtivas de se eu estivesse fazendo outras coisas fundamentais.
?Um bombardeio infinito de notícias, fofocas e imagens nos tornou maníacos viciados em informação. Essa situação me fragmentou e vai fragmentar você também.?
A questão é exatamente essa: até que ponto precisamos de fato ficar online? Precisamos mesmo de tanta informação assim?
Não, deixe-me reformular a pergunta: precisamos MESMO de redes sociais?
A resposta mais simples e verdadeira conforme o Cal aponta é: não exatamente. E eu concordo com ele.
?Quanto de seu tempo e atenção deve ser sacrificado pela ligeira vantagem de obter conexões esporádicas e novas ideias obtidas através da presença constante no Twitter??
Vale lembrar aos que nasceram depois dos anos 2000 que houve uma época em que tudo que tínhamos era uma TV e um rádio em casa. Eram as únicas coisas que nos proporcionava algum tipo de "distração". A maior parte do tempo livre anteriormente era usado pelas crianças para socializar na rua: brincando de skate, patins, patinetes, futebol, esconde-esconde.
Costumo dizer com saudosismo: essa era a melhor época das nossas vidas, e não sabíamos.
Não precisávamos tweetar nada nem ganhar vários likes para nos sentirmos bem; era só ir pra rua, brincar até tarde da noite e voltávamos com o maior sorriso do mundo, juntamente com um bem estar incomparável.
Hoje, somos infelizes. Simplesmente porque estes bons tempos da nossa vida foram esquecidos no tempo. Congelados em partículas de "games online" e "conversas de WhatsApp" que jamais substituirão de fato o bom e velho dialogar cara a cara.
?É fácil ser seduzido pelas pequenas vantagens oferecidas pelo aplicativo ou serviço mais recente, porém logo esquecemos o custo em termos do que mais importa: os minutos de nossas vidas.?
Estamos esquecendo que nosso tempo é precioso demais para desperdiçar jogando uma tarde inteira fora, apenas baseada em cliques esporádicos e rolar a tela pra baixo. Você não precisa ver aquele sapato novo da fulana no Instagram, não precisa ver a dancinha simplória de algum influenciador no TikTaque, e aposto que sua vida ganharia mais significado se parasse simplesmente de buscar hashtags no Twitter apenas para comentar algo que todos já estão comentando ? de forma sensacionalista, mal informada e exagerada ? sobre.
Não fomos feitos para sermos máquinas viciadas em observar a vida do outro através de uma tela, pelo amor de Deus.
?Essas empresas lucram conforme o tempo dedicado a seus produtos. Elas querem que você conceba as ofertas como uma espécie de ecossistema divertido em que coisas interessantes acontecem. Essa mentalidade de uso geral facilita a exploração de suas vulnerabilidades psicológicas.?
Veja bem: não basta apenas dizer que vai controlar essas mídias porque não funciona assim. O Facebook, o Twitter, o TikTok, o WhatsApp e o Instagram ganham dinheiro baseado na quantidade de tempo que você fica dentro dos apps.
Então, eles criam mecanismos infinitos de clickbait pra você passar várias horas lá dentro. São inúmeros links que levam a outros links com um único objetivo: manter você rolando a tela por HORAS. É isso que faz o Mark Zuckerberg, o Bill Gates e tantos outros fabricantes de tecnologia potencialmente ricos.
E eles não podem simplesmente te permitir o uso consciente, porque perderiam dinheiro. É exatamente o uso compulsivo que os enriquece.
?Para construir um novo setor da economia com base nesse dispositivo, era necessário convencer as pessoas a olharem para ele? o tempo todo. Foi essa diretriz que levou empresas como o Facebook a inovarem no campo de engenharia de atenção, descobrindo como explorar vulnerabilidades psicológicas para induzir os usuários a gastar muito mais tempo nesses serviços do que de fato pretendiam.?
Apesar disso, não sou contra a tecnologia: muito pelo contrário. Acho que o uso consciente dela pode nos trazer vários benefícios.
Eu costumo usar o WhatsApp, por exemplo, para notificar meus pais quando saio do meu trabalho para que possam me buscar ? essa é uma regra deles mesmos, não minha.
Mas apenas isso; não tenho grupos, não tenho interesse em status e muito menos nessa nova atualização de "comunidades" que tem o objetivo de fazer você ficar preso lá dentro ? mais do que já fica.
Também uso o Cittamobi, que é um app que prevê seu ônibus em tempo real. Preciso desse app especialmente porque sem ele, eu perderia meu ônibus e chegaria atrasada ao trabalho.
Mas nenhum dos apps que uso exige mais que 10 minutos de atenção por dia. Todo o resto do tempo eu tenho uma vida offline saudável: conversando com meus colegas de trabalho, observando a natureza de perto, passeando com meus cachorros, ouvindo clássicos dos anos 80 na rádio ? e em tudo isso, o celular esquecido na bolsa. Porque eu jamais serei uma vítima do meu celular: o produto é ele, não eu.
Dito isso, eu só tenho a mesma conclusão do autor do livro:
?Não clique em ?Curtir?. Nunca. E, conforme fizer isso, pare de deixar comentários nas postagens de mídia social também. Não é ?tão fofo!? nem ?demais!?. Fique em silêncio.
Simplificando, não clique e não comente. Essa restrição básica mudará radicalmente para melhor sua vida social.?
Vamos ser mais presentes na vida real, e menos na vida online. Eu sei que ao menor sinal de tédio, é irresistível entrar nas mídias e dar aquela rolada na tela pra preencher o tempo.
Mas isso não é saudável, e em termos de qualidade é um tempo que não vai retornar mais. Não deixe para descobrir tarde demais que você jogou quase uma vida inteira fora apenas por causa de cliques, curtidas e comentários em uma tela.
Mais do que nunca: é hora de sermos minimalistas digitais.