Alexandre 07/09/2021
MUITAS reservas quanto a este livro; esta obra me deixou bem triste
Este livro me surpreeendeu muito - e infelizmente pelo lado negativo. É o primeiro livro espírita que me provocou sentimentos contrários aos dos outros que já li.
Antes de tudo, quero frisar que esta é a MINHA EXPERIÊNCIA e que RESPEITO quem acredita no que diz este livro. Não, não sou o dono da verdade. Sou só um aprendiz desta doutrina maravilhosa. Mas, como ensinou o próprio Kardec, "a fé inabalável é aquela que pode enfrentar sem temor a razão, em todas as épocas da Humanidade".
Logo nos primeiros capítulos:
- a forma de retratar Jesus (alguém que nem sabia onde ficava o Brasil);
- o apego a símbolos externos e alegorias (exemplo: "transplantar a árvore do Evangelho"), ou seja, coisas que o Espiritismo inovou deixando em nosso passado católico e judeu;
- a romantização excessiva de fatos e personagens brutais da nossa história, sempre do ponto de vista do colonizador;
...tudo isso foi me fazendo mal quanto mais eu lia. Mas eu decidi ir até o fim para poder falar do livro com propriedade de causa. Acredite, eu gostaria muito que a minha reação tivesse sido boa a este livro. Mas o caso é que sobre vários personagens relatados eu li livros de historiadores muito gabaritados, que com pesquisa historiográfica séria, com documentação histórica, mostram que esses personagens não eram seres bonzinhos nem iluminados como quer fazer crer esta obra.
Uma preocupação extra me surgiu com o texto recheado de ufanismo, talhado para higienizar nossa história - que é muito feia, de muita exploração, mortes e maldades, infelizmente.
Parece um texto perfeito para os ufanistas que hoje tentam reescrever nossa história, visando justificar e naturalizar desigualdades do nosso país e manter privilégios.
Não à toa depois da leitura passei a perceber que existe uma parcela de espíritas que adora este livro para justificar posições políticas que acho equivocadas, porque tentam exatamente desconsiderar a complexidade da nossa história.
Acho realmente perigoso que esse livro caia nas mãos de quem não tenha alguma bagagem histórica.
E escrevo isso com dor no coração. Sofri muito ao sentir o livro me causar toda essa estupefação, surpresa e, por que não dizer, decepção. Me senti menos espírita. Jamais gostaria de ter esses sentimentos em relação a um texto psicografado pelo grande Chico, digno dos maiores elogios. Eu não sou nada perto dele e sou um bebê na doutrina espírita. Mas, se quero uma fé raciocinada, preciso colocar a verdade que está em meu coração.
Acredito que outros espíritas tenham sentido o mesmo que eu em relação a essa obra. Se fosse para continuar acreditando no dogma de que algumas pessoas são absolutamente inquestionáveis, eu teria continuado católico. Mas o fato de também já ter me deparado com textos questionáveis do próprio Kardec me fez pensar que ele e Chico, apesar da grandiosa missão que cumpriram, foram antes de tudo homens. E, como homens, podem ter se equivocado. Eu posso estar equivocado em todo este texto, inclusive.
Só que o direito de questionar respeitosamente deve ser assegurado a todo aquele que se pretender um verdadeiro espírita. Isso que Kardec sempre esperou de nós. Senso crítico. Fé raciocinada.
Senão vira seita, cegueira. Se um dia eu me flagrar equivocado e mudar de opinião, farei questão de voltar aqui e escrever uma nova resenha relatando esse novo entendimento. Por enquanto, fico, HUMILDEMENTE, com esses questionamentos.
Não quis entrar nos detalhes de cada coisa que achei questionável no livro, pois daria outro livro, eu acho. Mas nos dias em que me sentia "o pior espírita do mundo", achei um texto muito bom do Leonardo Marmo Moreira, palestrante espírita, dissecando capítulo por capítulo do livro e, felizmente, vi que os questionamentos não eram só meus. Tem gente boa e pensante comigo.
Basta dar um google com o nome do livro e do Leonardo ou clicar direto neste link:
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/M_autores/MOREIRA_Leonardo_Marmo_et_HESSEN_Jorge_tit_Brasil-Cora%E7%E3o-do-mundo-P%E1tria-do-Evangelho-Uma-An%E1lise-Cr%EDtica.pdf
Abraços fraternos.