Augusto 06/07/2015
"I don't want to be buried in a Pet Cemetery"
Louis Creed é um jovem médico, casado, pai de dois filhos pequenos e dono de um gato (que atende pelo nome de Winston Churchill), que aceita se mudar de Chicago para Ludlow, uma pequena e pacata cidadezinha no interior do Estado americano do Maine. E esse é o primeiro de muitos erros que o doutor virá a cometer. Aparentemente não houve quem avisasse nosso amigo Lou de que se mudar para o Maine num livro de King é loucura. Ninguém em sã consciência faz isso, caramada, ninguém!
Mas Louis faz e apesar da viagem cansativa, dos medos e incertezas que vêm de brinde em toda e qualquer mudança e de alguns percalços iniciais... as coisas no começo transcorrem bem para a família Creed. A filha mais velha, Ellie, se adapta bem à nova escola; o pequeno Gage se ocupa em fazer o que os bebês fazem de melhor; o novo emprego na universidade tem seus momentos difíceis, mas de maneira geral é tranquilo; a calma da pequena cidade dá inclusive uma aquecida na relação do casal... e há ainda os simpáticos idosos da casa da frente, Jud e Norma Crandall, que rapidamente se tornam amigos próximos dos forasteiros. A casa dos Crandall fica logo ali... do outro lado da Rodovia 15... uma estrada que parece ter um apetite insaciável por bichos de estimação.
A nova residência dos Creed é agradável. O problema mesmo não é a casa em si, mas o que há atrás dela. O imenso terreno possui uma trilha que dá acesso ao que as crianças da cidade batizaram como “Simitério de Bichos”. Esse “belo” e mórbido lugar é o descanso final dos bichos de estimação da garotada de Ludlow, inclusive dos pets que foram mastigados e cuspidos pela Rodovia 15. Se ter um cemitério praticamente no seu quintal já não parece uma ideia muito convidativa pra maioria das pessoas, o que dizer de dois? Sim.... o “Simitério” é apenas um aperitivo... além dele e de uma barreira de troncos e galhos retorcidos que parece ter sido colocada ali, no meio da trilha, com o propósito específico de barrar a passagem de curiosos, há uma imensidão de terras que antes eram propriedade dos índios Micmacs, e mais alguns quilômetros adiante, é possível encontrar um lugar que passou a ser temido e evitado a todo custo até mesmo pela própria tribo. O cemitério Micmac não é um lugar que você gostaria de visitar. E ir até lá... é o mesmo que convidar algumas forças muito antigas, poderosas e absolutamente más pra sentar-se à mesa da sua sala de jantar. Aproveite as visitas.
Este é provavelmente um dos livros de King mais bem escritos dentre os que já li. A história tem um bom ritmo desde o início, os personagens são cativantes e o autor consegue manter um clima de tensão durante toda a trama. É quase como se... houvesse um cheiro no ar ou um ruído muito distante que garante ao leitor que algo muito ruim vai acontecer a qualquer momento. O Rei do Maine segue a receita já consagrada em outras obras suas: nos presenteia com uma porção de spoilers que, longe de tirar a graça do livro, trabalha em favor da mesma. Isso é uma das coisa que considero mais brilhantes em King: a habilidade que ele tem pra contar uma boa história. Não interessa tanto saber o que vai acontecer, mas como vai. De resto, creio que faltou um pouco de terror.... acho que minha expectativa era alta nesse sentido e me frustrei um pouco. Mas é um livro necessário na estante de qualquer fã do autor e vale a leitura.
4 estrelas