Vic 02/01/2024Romance com ecos machadianos"O Finado Mattia Pascal" foi uma obra que me chamou atenção desde a sinopse e o que me manteve foi o tom do narrador. A proposta do enredo e o tom do narrador lembra um pouco "Memórias Póstumas de Brás Cubas", mas o romance de Luigi Pirandello se afasta do romance realista machadiano em vários aspectos. Um deles é que Mattia Pascal, protagonista e narrador, não narra a sua história no pós-vida, totalmente desgarrado da existência no plano material. O personagem é dado como morto e Mattia escolhe fugir de quem é, de suas dívidas e de todos os laços quem o prendiam a essa identidade. Dessa forma, sua morte simbólica dá vida a sua outra persona: Adriano Meis.
Com sua nova identidade, Mattia aproveita-se da liberdade e dos privilégios de começar de novo com um bônus: havia passado por uma maré de sorte após perder sua filha e acumulou uma pequena fortuna com jogos de cassino.
Sabendo por meio dos jornais que seu corpo, vítima de suicídio, foi reconhecido por sua família, o homem decide seguir viagem e abandonar tudo que caracterizava Mattia Pascal.
Agora em uma nova cidade, alugando um quarto na casa de uma família em Roma, Mattia, vestido de Adriano Meis, se esbanja de uma liberdade que logo mostra-se ilusória e passageira.
Com o decorrer da obra tive dificuldade de me envolver com os personagens e com o próprio protagonista, mas gostei muito de como o autor externou a condição de seu protagonista, que mesmo fugindo de si mesmo, de Mattia Pascal, sempre voltava se deparava com ele, por mais que se esforçasse para deixar essa vida para trás. Outro elemento que muito me chamou atenção foi o estado ilusório de liberdade ao adotar a identidade de Adriano Meis: Mattia percebeu que fugir de si não lhe proporcionou liberdade, pois isso lhe privava de viver, mesmo que não tenha de fato morrido.
É uma obra muito interessante e recomendo a leitura.