Carol 02/10/2020Impressões da CarolLivro: Afirma, Pereira {1994}
Autor: Antonio Tabucchi {Itália, 1943-2012}
Tradução: Roberta Barni
Editora: Estação Liberdade
157p.
#1001livrosparalerantesdemorrer
"...e quem poderia ter a coragem de dar uma notícia daquelas, a de que um carreteiro socialista fora massacrado no Alentejo em sua carroça, respingando sangue em seus melões? Ninguém, porque o país se calava, não podia fazer outra coisa senão calar, e enquanto isso as pessoas morriam e a polícia mandava e demandava." p. 18
A trama de "Afirma, Pereira" se desenvolve na Europa de Salazar, de Franco, de Hitler, de Stálin, num continente eivado por governos totalitários que o levariam ao maior conflito armado da história.
É nesta conjuntura, é nesta Lisboa, onde vive Pereira, um viúvo de meia-idade, homem solitário, de hábitos consolidados. Jornalista responsável pelo caderno cultural de um periódico vespertino, escreve necrólogos de autores famosos e traduz contos franceses do século XIX.
Como um homem comum, Pereira acredita que não lhe cabe se envolver com política. Frente ao totalitarismo, afirma, Pereira, um cidadão pode pouco, ou quase nada. Uma ideia capciosa já que, se todos assim pensassem, um tirano ficaria no poder para sempre.
Pereira começa a questionar sua apatia política ao conhecer os jovens Monteiro Rossi e sua namorada Marta. A partir desse encontro, Pereira toma consciência de que manter-se isento não é o suficiente, quando presente a injustiça. Entende, Pereira, que é necessário combater a tirania, mesmo que sozinho. Lutar contra a força bruta e a favor do que é justo, nunca será em vão.
"Afirma, Pereira" é um libelo contra a opressão e a censura governamentais. É um aviso que devemos estar atentos, devemos estar vigilantes, "a cadela do fascismo está sempre no cio", disse Bertolt Brecht e, na atualidade, quem se atreve a dizer que ele estava errado?
Um grande romance, escrito de forma cativante. Indico demais.