Rub.88 23/07/2018Cada Um Tem o Seu Lugar Nesse MundoMujique era o nome dado ao camponês russo na época pré-revolução socialista. Um pouco antes disso, eles viviam em regime de servidão até acontecerem às reformas agrícolas de 1861, que lhe deram a noção de liberdade. Mas a pobreza e a ignorância ainda os aprisionavam. Povo miserável que sobrevivia o dia a dia sem esperança, comendo o que havia, adoecendo muito e enchendo a cara de vodca vagabunda. Explorados ainda pela baixa nobreza provincial, que tinha por sua vez problemas mesquinhos a atrapalharem sonhos de alcançar o grau, inventado pela literatura, de Alma Russa.
Na coletânea O Assassinato e Outras histórias do escritor e medico nascido em Taganrog, Rússia, Anton Tchekhov fala das pessoas pobres de recursos e de espirito.
Seis contos que descrevem a província profunda, longe dos meios culturais. Personagens sobrecarregados com a própria vida, e que têm dependentes além de financeiros, emocionais a puxa-los para baixo. Da maldade e da indiferença que são sentimentos comuns nesse ambiente. A descrença e religiosidade se alternam. Acomodados e condenados à prisão com trabalhos forçados são situações gêmeas.
Em O Professor de Letras descobre que apenas casar é pouco para quem almeja uma vida plena.
Parentes chatos e inoportunos criam ódio cego no conto O Assassinato.
Na estória Os Mujiques, miséria pura, abjeta e o apodrecimento em vida que a fé não mitiga.
Iônitch descobre que as mulheres são maldosas com quem as ama e que perdão é algo que coração humilhado não concede.
Em Serviço, medico cansado trabalha perdidos em pensamentos desanimadores.
E enfim, no conto No Fundo do Barranco a tragédia, um tanto novelão mexicano, que envolve casamento arranjando, avareza inescrupulosa, falsificação de dinheiro, infanticídio e resignação.
Tchekhov não complica. Ele é simples. Mentes simplórias pensam no comum e com medo de falarem besteira. Parece que em todas as estórias sempre estão almoçado. Isso porque comer é a única alegria que tem; O momento de felicidade, pois só pensam no prato. E conversam logo depois da janta, boiando na mediocridade. Claro que tem aqueles gigantes nomes russos que sempre me aborrecem.
No final dessa edição existem cartas escritas para seu editor. Nelas ele conta das agruras, como medico voluntario, que passava na luta contra um surto de cólera acontecido em 1892 perto de Moscou. Nessas missivas ele também reclama que não tem tempo para se dedicar a literatura, do dinheiro ficando escasso e da falta de resposta do seu correspondente. Em uma das cartas ele escreve algo que é resumo da obra que li dele. Aqui repito:
“Em minhas cartas para você muitas vezes sou injusto ou ingênuo, mas nunca escrevo aquilo que não sinto.”