Jessica 29/05/2020Kiersten White — A farsa de GuinevereA farsa de Guinevere é o primeiro volume de uma trilogia e uma releitura da famosa história do Rei Arthur, mas com Guinevere como protagonista — ou, na verdade, não exatamente.
Guinevere não é Guinevere. A Guinevere de verdade está morta, e a jovem de dezesseis anos que chega a Camelot para se casar com o Rei Arthur é uma impostora. Mas vamos, a partir de agora, chamá-la de Guinevere mesmo, porque não sabemos seu nome. Só quem sabe que ela é uma impostora são ela mesma, o próprio Arthur e o pai dela, o feiticeiro Merlin, agora banido de Camelot em uma medida para manter toda magia longe do lugar. Em teoria.
Na verdade, o casamento foi arranjado para que ela, que ninguém (além dos três) desconfia também ser uma feiticeira, possa proteger o Rei Arthur de uma ameaça mágica. Ela abandonou toda sua vida em nome dessa missão e foi recebida de braços abertos na nova terra. O rei, a dama de companhia Brangien e alguns cavaleiros como Mordred, sobrinho do rei, se tornam amigos com os quais Guinevere pode contar. Inclusive para salvar sua vida em mais de uma ocasião.
A ameaça mágica, porém, é um grande mistério. Guinevere não sabe exatamente o que pode estar à espreita, só sente a magia em alguns momentos e lugares. O que, afinal, ela precisa impedir? Como proteger o marido/amigo e seu reino?
Se você conhece bem a lenda do Rei Arthur —ou, como eu, só leu Avalon High da Meg Cabot—, já tem ao menos uma pequena ideia de quem são alguns personagens e também de algumas coisas que podem acontecer, mas a forma que elas acontecem ainda é surpreendente nessa releitura. A presença feminina na narrativa é muito forte, e a adição de representatividade LGBT+, mesmo que de leve, é muito bem-vinda. Como em toda fantasia, o início da leitura é um pouco mais lento para construir a ambientação, mas não senti que ele demora a prender a atenção.
É uma mudança interessante que o foco da história seja, desta vez, em Guinevere, especialmente levando em consideração que ela sempre está escondendo algo dos outros ao seu redor. Ela não é apresentada como uma heroína indefesa e ingênua. Apesar disso, você não duvida em momento algum de que as intenções dela sejam positivas. A farsa de Guinevere é narrado em terceira pessoa, mas da perspectiva da protagonista, com acesso a seus pensamentos e sentimentos.
Quase todas as perguntas que você se faz no início da leitura —ou que os próprios personagens fazem ao longo da narrativa— são respondidas, exceto uma. Além disso, as revelações e novas perguntas apresentadas no final do livro criam um gancho forte para o segundo volume da série.
Foi divertido e empolgante voltar a Camelot nessa releitura, muito bem acompanhada pela rainha Guinevere-que-não-é-Guinevere. Vi vários leitores, especialmente de fora do Brasil, comentarem que não curtiram o final, mas eu não senti o mesmo. A autora tinha mais de uma opção para resolver o grande gancho, e me parece que qualquer uma poderia ser bem explorada na sequência — e, mais do que a escolha, acho importante ver como ela seria desenvolvida. Já posso dizer que estou oficialmente na fila para a continuação.
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